Perdemos a conta de há quanto tempo assistimos aos noticiários e tudo que ficamos sabendo é sobre mais um esquema de corrupção, mais nomes de políticos envolvidos, notícias ruins que dão aquela sensação de desesperança e incertezas sobre o futuro. Mas aí, seu filho o chama, te mostra algo que fez no dia, comenta de maneira inteligente sobre o assunto, posiciona-se, surpreende-o com um novo fato a respeito de si mesmo e aparece lá no fundo uma certeza de que algo está sendo feito certo, e, principalmente, por você.
Pois bem, a moral de um ser humano, assim como seus valores são parte de um aprendizado constante que vem de diversas formas e fontes. Você, como pai, mãe sabe disso. Os jovens e crianças que estão chegando para formar essa nova geração, uma nova sociedade, às vezes, surpreendem-nos mostrando como são capazes de entender a importância disso tudo de diferentes formas. Quer um exemplo?
“Dentro dos jogos as regras são de extrema importância. Quando você está com a bola, em apenas um segundo, passam mil e uma possibilidades do que eu posso fazer. Sabendo das regras fica bem mais fácil. É claro que não as decorei do dia para a noite, aprendi com a prática e com o tempo. Sempre vai haver regras no basquete e é automático segui-las fora do jogo também. As regras ajudam a tomar decisões corretas para não nos prejudicarmos depois”. Essa é a Julia Rossetim Letty, 14 anos, armadora do time de basquete no Colégio Marista Paranaense e na Sociedade Thalia.
Nesse depoimento é possível perceber a consciência que ela já possui de si mesma, de sua responsabilidade como ser humano em construção. E se não é isso que constrói um bom caráter, o que mais pode ser, então?
A professora de Educação Física do Colégio Marista Santa Maria, Maria Marta Chueiri Follador explica que esse trabalho sobre as regras dos jogos é desenvolvido durante as aulas e a tentativa é sim, expandir o entendimento para além das quadras.
“A primeira coisa é fazer os estudantes entenderem que para se viver em sociedade, eles precisam seguir as regras impostas e perceber que elas estão presentes em tudo: em casa, na escola, no clube, nas ruas, na igreja, nos parques, etc. Depois mostrar como seria se regras não existissem, e com isso, as vantagens. Por exemplo, em uma atividade física precisamos de regras para que as pessoas tenham um objetivo comum e possam se divertir. Já imaginaram se nos jogos não tivéssemos as faltas? Ou se cada um pudesse fazer o que quisesse para chegar no objetivo final? Seria uma bagunça. Muitas vezes adaptamos algumas regras para que eles percebam que é preciso haver mais respeito com o diferente e cooperação entre todos”, explica a professora Maria Marta.
Como colaborar para a formação do caráter dos jovens
E aí, a pergunta surge: mas como fomos nos tornar uma sociedade com governantes tão irresponsáveis, o que é necessário para que nossas próximas gerações venham com mais consciência e caráter?
Acredito que esses casos de corrupção deveriam funcionar mais ou menos assim: tem um técnico que seria o presidente, por exemplo. Ele é base do seu time, que seria a população. Ele que deve fazer com que países estejam em harmonia e em paz, sem guerras. Mas, como a corrupção vem deles, deveríamos, como atletas, tomar uma decisão para tirá-los do poder. Ou eles mudam ou nós mudamos nosso jeito de jogar”. A desportista faz uma analogia de como ela relaciona o “fair play”, que aprende nas quadras, com a corrupção. Apesar dos 14 anos, percebe e tem a visão do que se tornou o cenário político no Brasil e já compreende a importância de seu título de eleitor, que virá em breve.
A professora Maria Marta explica que tudo isso não é apenas discurso na boca das crianças e adolescentes. Os trabalhos trazem resultado e a formação de valores acontece de forma natural, com o cotidiano e o sentimento de comunidade. “A minha avaliação não é feita só na performance de cada um, mas no trabalho em grupo, na cooperação, no respeito. Eles precisam se preparar para enfrentar situações diversas durante a vida, saber conviver com pessoas diferentes, lidar com frustrações – vitórias e derrotas nos jogos e na vida – e tomar decisões”.
Portanto, respira! Mesmo que o noticiário esteja dizendo que tudo está do avesso, o caminho está sendo trilhado. E principalmente, por você, dentro da sua casa, nas escolas, pelos educadores e com certeza, pelos próprios jovens e crianças que já parecem ter nascido prontos para inverter esse jogo.
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