Entrar em contato com os propósitos e aquilo que se destaca como talento já deixa de ser uma opção para se tornar uma necessidade nos novos perfis exigidos pelo mercado.
Já conversamos por aqui sobre as mudanças no mercado de trabalho com a chegada das novas gerações, assim como pelos avanços tecnológicos que estão substituindo tanto mão de obra, como o pensamento vigente.
Com esse cenário, trouxemos a reflexão a respeito das novas formas de pensar que os estudantes podem ter sobre carreiras e formas de trabalho. O empreendedorismo está deixando de ser muitas vezes algo que simplesmente acontece para se tornar uma escolha, um propósito, baseado em perfis que se identificam com outros sistemas de trabalho.
Mas como trabalhar esses novos perfis que surgem para moldar o futuro?
Ou até mesmo, como gestores e profissionais que precisarão lidar com tudo isso podem se preparar para mudar junto sem perder espaço no mercado?
Nessa entrevista com a publicitária, professora de Marketing & Comunicação e criadora do curso Marketing Terapia, Daniella Rebelo, conversamos um pouco sobre como ferramentas de marketing podem ser fonte de estratégias para o refinamento de propósitos pessoais e também empresariais.
Há pouco ainda se discutia o marketing 3.0 e logo após já foi lançado o marketing 4.0. Isso se deve à velocidade com que o comportamento de consumo está mudando, assim como o mercado de trabalho?
O Marketing 4.0 foi lançado no início desse ano e os próprios autores começam falando que o 3.0 definiu as bases, transformou o que vinha acontecendo até agora – mudamos o foco de “consumidor” para o “Ser Humano”, entendemos que somos feitos de um corpo físico, uma mente capaz de fazer assimilações e um espírito que nos anima. Isso, veja bem, na visão do marketing, na análise e compreensão dos grupos humanos como mercado. Então a partir dessa nova base, tendo isso em mente, o Marketing 3.0 nos diz quais produtos, serviços e campanhas serão lançados.
O 4.0 nos mostra “como” vamos comunicar essas transformações e como será o acesso até o mercado. E isso será através da Internet e seus efeitos: as Redes Sociais mudaram a nossa forma de comunicação, mais prática, mais rápida e direto ao ponto. Usamos o Google somente quando precisamos de algo e vamos para os sites em busca de mais informações. Já não dependemos mais da publicidade exclusivamente para saber quais produtos e serviços estão disponíveis.
Por fim, o efeito dos serviços, já que com a web a mais variada gama de serviços puderam tomar forma, como exemplo: iFood, Uber, Netflix, AirBnB. Temos tudo à mão através dos próprios aplicativos. Abre-se todo um novo perfil de mercado e de atuação. Então as profissões, acompanham essa tendência, sinto que cada vez mais temos oportunidade e há espaço para sermos quem somos e oferecer ao mercado um trabalho que esteja alinhado com o que acreditamos e buscamos realizar no mundo. Dá para viver de sonho sim, criamos as profissões mais do que somos criados para elas.
Quais profissões você consegue visualizar no horizonte pensando em todas essas mudanças e também no perfil observado em seus alunos?
Mais do que nunca as pessoas começam a perceber que antigos formatos de vida ou profissões, que trariam certamente a realização financeira, já não se encaixam mais na nossa realidade. Está cada vez mais importante ter um diferencial, um repertório de vida. Os caminhos que te trouxeram até ali constroem não só o futuro como também o presente. Não dá mais para trabalhar uma vida inteira e aguardar a aposentadoria para ser feliz e se dedicar àquilo que realmente lhe dá satisfação.
Temos hoje uma consciência mais ampliada de que a vida é “agora”, mais do que o destino o mais importante é aproveitar o caminho. Com essa realização, surgem diversas formas de se desempenhar um papel no mercado, o qual pode ser rentável, fazer sentido e esteja alinhado com um propósito. E, se a nossa geração teve que despertar para isso a duras penas, as gerações atuais já têm e vivem essa consciência.
De onde vem e o que aborda seu curso marketing terapia? Como ele se relaciona com isso que estamos propondo como discussão?
Ao aplicar as teorias de marketing na sala de aula, percebi que a aplicação para organização estava um pouco distante do entendimento dos alunos. Poucos já estavam atuando no mercado e mesmo assim ainda ficava muito vago. Comecei então a abordar as ferramentas de marketing por outro viés, ao invés de aplicar pensando em uma marca por exemplo, que eles usassem para as suas vidas e as coisas que buscavam realizar. E, uma a uma, fui percebendo que dava certo e fazia todo sentido.
A análise SWOT – quando observamos os ambientes do mercado e seus efeitos, cruzamos com as fortalezas e fraquezas de dentro da organização – tudo a ver com um planejamento para uma viagem, um intercâmbio ou a procura por um estágio – pode ser usada para saber quais oportunidades e ameaças vou encontrar no mercado e como vou lançar mão dos meus pontos fortes para me preparar para isso, destacar-me e ter até uma vantagem competitiva, única e exclusiva do meu repertório de vida. Da mesma forma, como posso me preparar e melhorar os meus pontos fracos. É demais, certo?
A partir disso, comecei a aplicar as demais ferramentas pelo mesmo viés e aí me deu esse insight de levar essa informação para além da sala de aula. Oras, se o Marketing entende e atende o mercado, porque não fazer o caminho inverso? Entender a si mesmo antes de partir para o mercado: mudei o sentido que era de fora para dentro, para então de dentro para fora. E isso, é sim um processo terapêutico muito valioso, realizei-me ao perceber que faz sentido também para as outras pessoas e não somente para mim.
No Marketing Terapia, os 4Ps – Produto, Preço, Praça e Promoção – por exemplo, ganharam um novo sentido: desenvolvi cada um pensando não só no profissional, mas até na própria organização tendo esse foco no autoconhecimento, mudando para Personalização, Percepção de Valor, Pontos de Contato e Performance.
As novas profissões têm mais a ver com o que, senão sucesso, carreira e dinheiro? Como os pais e as escolas devem encarar isso daqui para frente, na sua opinião?
Tem mais a ver com a realização pessoal, com o fato buscar entender e desempenhar o seu propósito, aquilo que faz seu coração vibrar e a sua vida valer a pena.
O que podemos fazer é incentivar essas crianças e jovens a desenvolverem seus potenciais e não buscar se encaixar nos antigos padrões. Eu costumo brincar que essa não é uma busca de “ser hippie”, mas sim de autoconhecimento. A partir do momento que você se conhece mais, você desenvolve e trabalha seus potenciais e o retorno financeiro acontece.
Dá para ter realização financeira sem abrir mão da realização pessoal e de se viver daquilo que acredita. Tem muito espaço no mercado e caso não tenha, dá para criar muito espaço para novos profissionais e até profissões que entreguem, ou melhor, troquem e multipliquem valores.
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