É difícil imaginar uma família brasileira na qual, aqui e ali, o uso de telas não se torne uma baita discussão: “Desligue essa tela!”, “Vai dormir!”, “Você não acha que está usando demais?”, “Vem jantar!”, “Olha para mim quando falo com você”.
É um fato que elas vieram para ficar. Porém, precisamos lembrar que em educação, atalhos muitas vezes se tornam mais nocivos do que pensamos. Pense na comida processada. Ela é mais barata, mas é mais saudável? Da mesma forma, podemos pensar: como estamos alimentando nosso cérebro por meio das tecnologias?
Em uma sociedade que tem pressa e telas demais, pode-se facilmente cair no perigo de uma anestesia diante de uma realidade na qual o uso de telas se tornou exorbitante. Não, não estamos usando pouco. Não, não é um exagero. A situação está realmente fora do controle e observamos também, que há em boa parte dos veículos de comunicação, uma quase ausência de informações e orientações a respeito disso, o que torna ainda mais difícil encontrarmos referências seguras para o uso saudável da tecnologia. Em uma sociedade que acabou acreditando que é tarefa dos familiares fazer os filhos felizes, ver uma criança olhando uma tela com uma música animada, pode trazer a enganosa sensação de que ela está se divertindo, afinal de contas, ela está concentrada, atenta, quieta, comportada. Porém, estamos diante de um número muito grande de crianças e adolescentes que estão alimentando seu cérebro com o uso inadequado, não apenas em termos da quantidade de horas, mas também dos próprios conteúdos acessados. A segunda enganosa sensação decorre do fato que, por acharmos que os filhos dominam o uso de softwares e aplicativos, eles estão preparados para o mundo digital do futuro. Vale lembrar que as pesquisas indicam que o uso da tecnologia para fins criativos e educativos é extremamente baixo.
Nosso convite é então lembrarmos que nosso papel educacional demanda coragem de nos posicionar para além do que está na moda ou no costume, para além dos atalhos. Vício digital é tão prejudicial para nossa vida como outros vícios. Cabe sim aos adultos educarem, orientarem e, quando preciso, limitarem o tempo, e mais do que isso, o conteúdo que não for adequado aos seus valores familiares. Isso não é censura, mas sim amor, cuidado. É a função de familiares que se importam de verdade. Nos dias atuais, educar não é fácil, pois há muitos familiares que estão anestesiados diante de seu papel, caindo em narrativas que os fazem deixar as “coisas para lá” e abandonarem seus filhos ao uso desmedido e irracional de telas, o que já tem levado a casos precoces de ‘demência digital’, que é a perda pronunciada da capacidade de focar, raciocinar, analisar, aprender e memorizar.
Coragem! Sigamos juntos. Não é fácil nadar contra a maré, nunca foi, e nunca será. Mas é nessa hora que vale lembrarmos de uma parte muito boa da educação que muitos de nós tivemos, daquele momento em que ouvíamos de nossos pais: “você não é todo mundo”, “quando você crescer, vai me entender”. Você é o adulto da família e seus filhos merecem crescer em um lar em que sejam protegidos, inclusive de si mesmos. Conecte-se com seus valores e valorize a si mesmo.
Comments are closed.