Nossa forma de comunicação tende a favorecer respostas como o sim ou o não, pois elas nos soam simples, absolutas, claras e decisivas. Por esta razão, parece que estamos caminhando para a zona de conforto do ‘sim’ e ‘não’ quando talvez ambos(as) sejam respostas mais próximas da verdade. Entretanto, se cultivarmos o hábito de considerar ambos ou até diversos lados de uma questão, possamos ver soluções que nunca nos ocorreram antes. Para isto, é necessário muita força de vontade, pois devemos nos colocar no lugar do outro, com o qual geralmente discordamos. Com empatia e criatividade podemos sim conseguir agir e pensar de forma crítica e lógica, e esta é a sabedoria que tanto buscamos.
Nelson Mandela uma vez contou uma parábola sobre um homem xhosa (indígenas do sul da África) o qual deixou seu pequeno vilarejo para encontrar uma esposa. Ele passou anos e anos viajando pelo mundo a procura da mulher perfeita, mas não a encontrou. Quando ele finalmente retornou à sua vila, no caminho para sua cidadela, ele viu uma mulher e disse “Ah, encontrei minha esposa.” Na verdade, sua casa ficava quase ao lado da casa desta mulher o tempo todo. O biógrafo então questionou Mandela se a moral da história seria a que não precisamos rodar o mundo para encontrar respostas que estão a nossa frente, ou seria que precisamos de uma vasta experiência e maturidade para apreciarmos o que nos é mais familiar ou próximo de nós. Mandela pensou por um momento, concordou com o homem balançando sua cabeça, e então disse “Não há somente uma interpretação desta parábola, portanto, ambos os seus pontos de vista estão corretos.”
Nelson Mandela mostra com isto que não há respostas simples para perguntas difíceis, já que os problemas que enfrentamos na vida têm diversas causas. A habilidade de reconhecer estes fatos é o que chamamos de sabedoria.
Muito se discute e pouco se faz em relação à prática do pensamento crítico nas escolas. Esta é uma habilidade intelectual que deve ser intensamente ensaiada desde a Educação Infantil, quando começamos a aprender como aprender, e como analisar as informações. Professores e alunos geralmente se sentem desconfortáveis ao lidar com o pensamento crítico, pois sua prática exige uma reflexão pessoal em relação a tudo e todos.
Estudos realizados em escolas americanas mostraram que alunos que conseguem exercer sua criticidade desde o Ensino Fundamental, conseguem melhores notas e colocações nas melhores universidades do país. Alguns estudos divulgam ainda que a criticidade ajuda na alfabetização e favorece o aflorar da criatividade nos alunos.
Mas como conseguir estes resultados? Como professores podem fomentar uma atitude crítica de seus alunos nas salas de aula?
O pensamento crítico pode ser inserido em qualquer currículo escolar ou planejamento de aula, desde que a escola e o professor se disponham a proporcionar um ambiente fértil para o debate e discussão de ideias, em que os alunos questionam e avaliam o conteúdo e a fonte das informações. Fazer com que os alunos reconheçam certos padrões na informação os ajuda a encará-la com um processo ao invés de simplesmente memorizá-la. Um olhar crítico ajuda muito na compreensão, leitura e resolução de problemas propostos e praticados durante os anos escolares, atributos mais que necessários para o sucesso em vestibulares, na vida acadêmica e profissional.
Pode ser difícil para o professor agir mais como um facilitador do que um mestre, levando em consideração o padrão de ensino que seguimos há séculos. Mas já existem cursos e escolas para ajudar os docentes a adotarem metodologias voltadas ao desenvolvimento da criticidade em suas aulas. Os alunos devem começar por entender que muitas vezes não há uma só resposta certa, o que resulta em mais questionamentos. O trabalho colaborativo entre os alunos, onde um revisa e complementa o trabalho do outro é uma das estratégias que mais funcionam e que podem culminar na criação de wikis (plataforma digital onde os conteúdos são editados por diversas pessoas).
Estas são apenas algumas ideias das inúmeras que são praticadas e difundidas todos os dias, no mundo todo. O importante é termos em mente que este é um caminho a ser construído na educação. O repertório do professor precisa ser amplamente revisitado e atualizado, trazendo a tecnologia como grande aliada, tendo em vista que a criticidade é uma habilidade necessária para que os estudantes se tornem eternos aprendizes.
Fontes: P21, Global Digital Citizen Foundation e IB.
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