Algumas décadas atrás, falar em autoconhecimento no contexto das empresas, escolas ou mesmo no mundo esportivo, era facilmente percebido como uma perda de tempo ou mera perfumaria. Era um tempo em que éramos educados para sermos fortes e aguentar o tranco, trabalhar duro a vida toda para, anos depois, nos aposentarmos e então podermos desfrutar do descanso e da aposentadoria. Como as coisas mudaram!
Vieram as tecnologias, as redes sociais, novos formatos de trabalho, de relacionamentos, novos hábitos e estilos de vida que somados a uma pandemia, chacoalharam nossas bases, nossas estruturas. Estamos todos mexidos, sensibilizados, assistindo a um novo mundo se abrir diante de nós, ainda em plena transformação.
Não há mais um único modelo que nos direcione em relação a como educar nossos filhos, como lidar no dia a dia com tantas escolhas e como conciliar as demandas intensas do trabalho que temos com o sonhado equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
E tem mais. Se antes as narrativas de vida eram construídas de fora para dentro, vinham prontas da sociedade, da família ou da empresa, hoje cabe a cada um de nós definir seus próprios projetos de vida. Se pode nos trazer certa angústia ter que esculpir nosso destino sem clareza do porvir, isso também tem seu lado bom, afinal de contas, cada um de nós é único e se formos honestos e autênticos em nossas decisões, podemos ter uma vida boa, feliz e realizada, que combine com a nossa verdade. É aí que o autoconhecimento faz toda a diferença.
Conhecer a si mesmo significa um ato de se observar no dia a dia e perceber não só aquilo em que você pode melhorar, seja como pai, como mãe, como profissional, como amigo, como familiar, como cidadão, mas principalmente o que você já faz de bom, quais são as suas fortalezas nessas áreas e nos diferentes papéis que assume na vida.
Hoje se sabe que quando percebemos nossas competências, quando investimos em nossos pontos fortes, quando investimos em nosso desenvolvimento, nos sentimos melhor e isso nos aproxima de um estado de bem-estar e de uma vida mais feliz.
Uma boa vida significa dizer um sonoro “não” aos imperativos de perfeccionismo, de controle excessivo, de individualismo e no lugar disso, cultivar a percepção de que ninguém acerta sempre, ninguém é bom em tudo e que todos podemos ter dias, momentos ou fases em que não estamos tão bem assim. Não é sobre ser melhor do que ninguém, e sim melhor do que si mesmo ontem.
Vivemos em uma sociedade que costuma valorizar os ganhos materiais, dentre eles o troféu, o resultado, a popularidade, a fama, e isso pode acabar criando em nossos filhos um desejo impossível de ser atingido que é o de termos que estar sempre bem, perfeitos e no controle pleno de nossas vidas.
Melhor é transmitir a eles a sabedoria de que há fatos e situações que escapam ao nosso controle. Há momentos em que mesmo estudando muito para uma prova, podemos não nos sair tão bem.
Mostre a seus filhos e filhas que é importante saber lidar com o fato de que ser feliz não significa ausência de dificuldades na vida. Muito ao contrário. O que importa, converse sempre com eles, é como lidamos com a dor, com a espera, com o sofrimento. Em muitas situações da vida esta é nossa margem de manobra, e não é pequena.
Por fim, vale lembrarmos de mais uma importante ferramenta do autocuidado, que é a compaixão. Já parou para pensar como somos compassivos com nossos amigos? Com eles estendemos a mão, temos sempre uma palavra de conforto, buscamos compreender seus motivos e oferecemos um gesto de delicadeza, mesmo quando eles erram ou fazem algo inadequado.
Que tal adotarmos estes mesmos gestos com nós mesmos, dentro da nossa casa, com as pessoas mais próximas também? Assim, podemos formar, a partir do nosso lar, uma consciência de acolhimento e autocuidado, que se revela uma poderosa forma de sabedoria de vida.
NA PRÁTICA
Que tal agora você pegar um papel e um lápis e sentar com sua família e juntos, refletirem justamente sobre tudo isso? A ideia é uma roda de conversa em que cada um possa falar abertamente sobre:
- No que eu percebo que posso melhorar? (como pai, mãe, filho, amigo, irmão, aluno, morador do condomínio e assim por diante).
- No que eu percebo que já estou bom? (como pai, mãe, filho, amigo, irmão, aluno, morador do condomínio e assim por diante).
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