Período de transição gera enfrentamentos com a conquista de mais independência e questionamentos
O filho não é mais criança, mas também não é adulto. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é uma fase de transição que inicia por volta dos 10 e vai até os 19 anos. É um período de muitas mudanças, mas não precisa ser caracterizado como problemático, mas sim como um período marcado por alterações expressivas nos âmbitos biossocial, cognitivo e sociocultural. Nesta etapa costumam aparecer momentos de dificuldades, confusão e irritação, além de estados de tristeza, revolta e angústia.
“Entretanto, estas mesmas mudanças também produzem entusiasmo, desafios e crescimento. O seja, se trata de um período de oportunidades e riscos”, explica a psicóloga Rosiclea Doroti Rodrigues.
Mudanças biológicas e cognitivas
As características mais visíveis são as físicas, ocasionadas pelo efeito dos hormônios, que impactam rapidamente sobre o aspecto biológico. Já os aspectos cognitivos e psicológicos demoram mais, prolongando-se entre os 18 e os 24 anos de idade. Rosiclea esclarece que, nesta fase, surge a capacidade de pensar na “possibilidade” e não apenas na realidade, analisar probabilidades e a capacidade do pensamento hipotético.
“A adolescência é a época de reflexões sobre a vida e o seu lugar nela. As ideias sobre o mundo e a posição que cada pessoa ocupa ficam abertos a questionamentos e reflexões”, afirma a psicóloga.
No aspecto psicológico, acontece a construção de identidade e a busca pelo seu papel na sociedade, o que inclui a definição da carreira que quer seguir. Surge, também, a conquista da independência e da autonomia, o que normalmente gera crises frente à normas, regras e autodisciplina, questões que precisam ser construídas e desenvolvidas.
Em busca de compreensão e entendimento
Este período pode ser desafiador e desgastante para a família, explica Rosiclea, já que, rumo à maturidade, é comum que os jovens cometam deslizes e encontrem obstáculos. A psicóloga aconselha os pais a examinarem de perto cada problema que surge nesse percurso, na tentativa de compreender e encontrar soluções em conjunto.
“A música que incomoda os adultos, faz os adolescentes pularem, o telefone que, para muitos pais, se torna motivos de embates, é o meio com que os jovens conseguem fazer e manter laços sociais”, ressalta Rosiclea.
Para clarear o entendimento sobre a realidade em que o filho se encontra, ela sugere que os pais lembrem como foi a adolescência deles, observação que pode trazer detalhes importantes sobre os seus posicionamentos frente às mudanças que estão ocorrendo com os filhos.
“Muitos dos problemas trazem em seu bojo questões referentes a medos e inseguranças paternas. Esses sentimentos precisam ser acolhidos e trabalhados”, afirma.
De que forma manter o vínculo com o filho?
A conexão com os adolescentes é fortalecida quando os pais conseguem subjetivar as diferenças entre os seus temores e os dos filhos, compreender as mudanças físicas e cognitivas como naturais e necessárias e manter um diálogo aberto – e isso supõe respeitar até os momentos de silêncio.
A psicóloga salienta que é importante confiar nos valores passados aos filhos, acompanhando a sua vida sem invadir. É essencial que os pais consigam enxergar que eles são sujeitos de direitos e responsabilidades e, principalmente, respeitar os limites. Mesmo assim, às vezes o conflito pode acontecer para que essas fronteiras sejam estabelecidas e, por vezes, refeitas.
“O vínculo será desconstruído e reconstruído, muitas vezes, e ao final a experiência pode trazer grandes aprendizados e desenvolvimento para todos os envolvidos”, enfatiza.
Qual é o papel da escola nas questões que envolvem esse período?
“A escola é um lugar privilegiado para que as questões dos adolescentes sejam vivenciadas”, ressalta Rosiclea.
Neste espaço, é possível desenvolver a autoconfiança do aluno por meio de uma rede de apoio, metas educacionais coerentes, incentivo de atividades em grupo e voltadas à cooperação. Ou seja, propostas de interação social e experiência prática.
“Quando a família e a escola compõem um ambiente favorável e oportuno para o processo de desenvolvimento e maturação, um dia aquelas crianças se tornem sujeitos responsáveis consigo, com os outros, com o mundo e a c0m a vida”, finaliza a psicóloga.
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