Informar os filhos sobre o que está acontecendo é o primeiro passo para ajudar
Em um cenário com drástica mudança de rotina, atividades simples do cotidiano, como visitar os parentes, conviver com os amigos ou passear no parque já não são mais possíveis. Por isso, muitas famílias se perguntam como manter a saúde mental das crianças e adolescentes no período de isolamento.
As crianças e adolescentes fazem parte da vida social e percebem quando algo diferente se passa ao seu redor, ressalta o psicólogo Pedro Braga Carneiro, especialista da Rede Marista de Educação Básica.
“A primeira coisa a se fazer para que eles possam ficar bem em um cenário de adversidade como o que estamos vivendo é informá-los sobre o que está acontecendo, com uma linguagem e referências que possam compreender, ajudando-os a entender a dimensão do problema, mas sem atemoriza-los”, aconselha.
Mesmo com diálogo e sabendo que há um problema objetivo que provoca alterações na nossa rotina, Carneiro lembra que ainda assim é possível que os filhos fiquem chateados ou entristecidos, mas serão capazes de lidar com esse aborrecimento de uma forma melhor.
“É preciso abrir espaço para que falem sobre esses sentimentos, para que possam elaborá-los”, salienta o psicólogo.
Outro aspecto importante neste momento é incentivar as atitudes positivas, encorajando as crianças e adolescentes a encararem as dificuldades, sabendo que o momento vai passar, mesmo que não saibamos exatamente quando.
Buscar a organização da rotina
Neste momento, é muito comum que acabemos nos desorganizando – e isso é ainda mais recorrente entre as crianças menores. Sendo assim, Carneiro ressalta ser importante retomar alguma conexão com nossos hábitos e horários.
É muito provável que não consigamos reproduzir exatamente a rotina que tínhamos com as crianças e adolescentes, mas é uma boa condução tentarmos manter alguns marcadores básicos como tempo para dormir e acordar, momentos de higiene, tarefas domésticas (na medida das possibilidades de cada faixa etária), estudo, brincadeiras, mas também tempo sem nada programado, orientado – mesmo que em alguns momentos isso possa significar algum tédio.
“Não precisamos ser rígidos, mas ter esses marcadores pode ajudar a diminuir a ansiedade”, alerta Carneiro.
Na medida do possível, também é interessante incluir as crianças e adolescentes na elaboração das novas rotinas, para que faça sentido para elas.
Sinais de que algo não vai bem
Cada criança ou adolescente pode reagir de uma forma diferente à situação de estresse, tensão e medo. Podem ficar irritados, agitados, incompreensivos, insistentes nos mesmos temas (possivelmente aqueles que estão em voga como a sensação de enclausuramento e a privação dos ambientes externos).
Sentir-se triste, ou mesmo irritadiço diante de uma situação inusitada como a que vivemos não é necessariamente um problema, explica o psicólogo, mas podem ser reações perfeitamente aceitáveis frente às dificuldades concretas do cotidiano.
“Isso só se torna um problema quando, por conta desses sentimentos, o filho passa a não conseguir realizar algumas de suas atividades. Por exemplo, se a tristeza não permitir desfrutar das refeições, a irritação insistente impedir de aproveitar um momento lúdico, ou ainda prejuízos no sono”, adverte.
Nestes casos, é importante ajudar as crianças a compreender o que estão sentindo, essa elaboração faz toda diferença.
Como os pais podem ajudar os filhos neste momento?
São várias formas de ajudar. Em primeiro lugar é preciso cuidar da sua própria saúde mental e não se exigir mais do que é possível fazer nesse momento. As restrições que estamos vivendo vão impor alguns incômodos às crianças e adolescentes, não será possível entretê-los o tempo todo ou privá-los de todo desconforto.
Aceitando essas limitações, há uma série de medidas que podem contribuir para a saúde mental de crianças e adolescentes:
- Dedicar momentos diários para estreitar laços por meio de interações, sejam elas brincadeiras, leituras com as crianças mais novas, ou diálogos, filmes, jogos com as mais velhas;
- Tentar incluir os filhos nas tarefas domésticas, considerando seus limites e capacidades, fazendo-as participar ativamente das rotinas de casa;
- Planejar tempos e atividades em que as crianças possam se entreter sozinhas, sem a necessidade da intermediação de adultos. Melhor ainda se forem atividades que não dependam de tecnologias digitais, como jogos, leituras e atividades criativas;
- Proporcionar momentos de interação com pessoas amigas e familiares, realizando ligações, chamadas de vídeo, ou mesmo trocas de mensagens;
- Acompanhar o acesso a informações, principalmente das crianças, para que não fiquem atemorizadas em excesso com os acontecimentos. Mediar o contato com os noticiários pode ser importante para que tenham uma compreensão adequada sobre o cenário;
- Manter espaço aberto para o diálogo sobre os sentimentos, deixar as crianças e adolescentes saberem que as pessoas adultas também podem se sentir incomodadas com a situação, mas saber que podem contar consigo para desabafar, ou mesmo para tentar entender o que estão vivendo.
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