Quem é mãe, pai, ou responsável, provavelmente já passou por situações que o filho insiste em comer um doce, comprar um brinquedo ou assistir à televisão em um horário inapropriado.
Diante de circunstâncias como essa, os adultos podem não saber ao certo como agir e acabar atendendo aos pedidos sem refletir nas possíveis consequências. Contudo, negar alguns pedidos dos filhos pode ser uma boa forma de ensiná-lo sobre uma experiência importante: a de lidar com a frustração. E, não privá-lo dessa experiência e aprendizado.
Mesmo que os pais possam se sentir culpados por não atender todas as vontades de seus filhos, aprender a esperar é saudável para o desenvolvimento emocional. Afinal, as crianças precisam compreender que é normal se decepcionar ao longo da vida.
Ao longo deste conteúdo, vamos falar mais sobre o papel desse sentimento e a importância de lidar com a frustração, além de compartilhar estratégias para ajudar pais e cuidadores a orientar crianças, adolescentes e jovens a encarar essa emoção. Acompanhe!
Como a frustração age em nós?
Afinal, como esse sentimento tão inquietante mobiliza nosso organismo? Uma forma interessante de começar a pensar a como ensinar a lidar com a frustração é entender como ela afeta o cérebro humano.
Quando uma criança, ou qualquer pessoa, na verdade, tem vontades e expectativas frustradas pelas circunstâncias, o cérebro enfrenta um cenário parecido com as situações de desafio e dificuldade, o que resulta na produção de hormônios do estresse.
Essa cadeia de reações explica por que é tão difícil dialogar ou tentar chegar a uma conclusão racional quando jovens e crianças estão passando por uma situação de frustração.
No lugar, em algumas crianças podemos observar uma explosão de sentimentos, que pode incluir choro, gritos e outras reações tomam conta, uma vez que o cérebro entra em estado de alerta.
Como instruir as crianças a lidarem com frustração?
Como vimos, ensinar as crianças a lidar com a frustração no momento em que ela aparece nem sempre é fácil, mas é possível e necessário para seu desenvolvimento.
Com o auxílio das estratégias certas, que compartilharemos a seguir, pais e cuidadores têm mais chances de sucesso de contornar situações difíceis e ajudar seus filhos a lidar melhor com emoções complexas de forma mais saudável. Confira.
Valide os sentimentos
Acolha os sentimentos da criança e ofereça o apoio necessário que ela precisa para se acalmar. Isso não é necessariamente a mesma coisa do que dizer ‘sim’ para os filhos.
A psicóloga Ludiana Cardozo Rodrigues afirma que os pais não podem evitar que as crianças se frustrem, porque uma hora ou outra elas vão precisar encarar esse sentimento. “Devemos acolher as suas frustrações, por meio da escuta e da validação dos seus sentimentos”, aconselha.
Os pais não precisam se sentir mal por não atender as vontades das crianças de imediato. Mesmo porque atitudes como essa podem trazer mais benefícios para o desenvolvimento do que simplesmente estancar uma crise de choro deixando o filho fazer o que quer. Além de faltar maturidade para tomar todas as decisões, ele pode se acostumar a não tolerar as frustrações. A maturidade está relacionada com o desenvolvimento das funções executivas do cérebro que permitem o controle inibitório das reações emocionais e o planejamento de ações.
A ausência de tolerância, ou de saber esperar, pode causar impactos mais tarde, lembra a psicóloga. “Quando tirar uma nota baixa, por exemplo, pode ficar muito frustrado porque não aprendeu a lidar com a falha. No futuro, no mercado de trabalho, terá dificuldades em ouvir um não do chefe”, diz Ludiana.
Brinque com a criança
Quando a criança expressa comportamentos como choro e gritos, está comunicando algo, o comportamento sempre tem uma função. Pode ser uma forma de chamar a atenção dos adultos que estão próximos, ou uma forma de não realizar o que está sendo solicitado que ela faça. Por isso, é essencial ser próximo e atento ao filho(a) e separar um tempo do dia para se dedicar exclusivamente a ele(a).
“As crianças aprendem muito por meio do brincar, que é muito saudável e simbólico para elas”, ressalta a psicóloga. Por meio das brincadeiras, é possível passar ensinamentos sobre a vida, dialogando de forma aberta e em uma linguagem acessível.
O diálogo também é uma das melhores formas de estabelecer um vínculo de confiança com o filho(a), e deve ser um costume desde que a criança é ainda bem pequena.
Além de conversar, é válido lembrar que na infância se aprende muito pelo exemplo, por isso, é importante os pais e cuidadores estarem atentos às formas que se comportam diante das circunstâncias da vida.
Ajude a criança a entender o que sente
Sentimentos intensos, como a frustração, são difíceis de serem entendidos, sobretudo por crianças pequenas. Na medida em que elas estão aprendendo a navegar pelo mundo e encarar situações, elas também estão aprendendo muito sobre si e como seu corpo e mente reagem.
Logo, seja um facilitador nessa jornada, ajudando-as a perceber que emoções difíceis existem e que todas as pessoas passam por isso.
Nomear os sentimentos pode ajudar: além da frustração, raiva, tristeza, ciúmes e outras emoções podem e devem ser acolhidas e explicadas, para que as crianças encontrem, com o tempo, suas próprias estratégias para lidar e lidar com elas.
Mostre exemplos da sua vivência
Sentimentos difíceis em você é uma boa estratégia para gerar conexão e empatia, além de humanizar essas emoções, comprovando que elas de fato acontecem com todo mundo.
Converse com seus filhos e dê exemplos do dia a dia, como uma situação de trabalho, um dia que você se atrasou e outras histórias de momentos que você experimentou frustração, decepção, conflito, irritação e etc. Fale sobre como você se sentiu e lidou com isso.
Ensine a importância de ter paciência e esperar
Conforme falamos, a frustração tende a conduzir o corpo ao estresse e à explosão, portanto, antes de qualquer coisa, uma estratégia a ensinar para as crianças é a de se acalmar, se autorregular e esperar.
Ao atingir esse estado de calma, fica mais fácil para que ela consiga se conectar com seu raciocínio e inteligência e, assim, possa processar melhor a situação.
Essa habilidade, certamente, será construída com o tempo. Contudo, aos poucos, as crianças podem começar a aplicar essa tática e sentir melhores resultados ao lidar com sentimentos de angústia, e finalmente entender que o estresse e a irritação não solucionam as situações que estão vivando.
Ao mesmo tempo, à medida em que eles amadurecem e se tornam mais conscientes das situações, tonando-se mais capazes de se acalmar, fica mais fácil para pais e cuidadores poderem se aproximar e dialogar nesses momentos.
Mostre o lado positivo ou outra perspectiva da situação
Uma situação sempre oferece múltiplas perspectivas. Assim, mesmo que as coisas não tenham acontecido da maneira que seu filho(a) queria ou esperava, existem possibilidades de enxergar diferentes soluções ou desfechos mais positivos.
Por isso, em vez de focar em falar sobre como a situação é difícil ou ruim, ajude as crianças a perceber coisas boas que a situação também revela. Isso as ajudará a desenvolver resiliência e flexibilidade.
Diante de situações desafiadoras e complicadas, elas poderão usar essa lógica de pensamento para elaborar saídas.
Aprender a lidar com a frustração e emoções intensas e desconfortáveis é um passo importante para o desenvolvimento das crianças.
Além de terem a chance de desenvolver sua inteligência emocional, elas poderão se tornar pessoas mais tolerantes, empáticas e respeitosas, que sabem valorizar a diversidade e as diferenças.
Se você gostou do artigo, recomendamos que leia também nossa postagem com 10 dicas para ajudar as crianças durante crises emocionais.
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