Comportamento

Transtorno do Processamento Sensorial (TPS): o que é e como afeta as crianças?

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Antes de entender a definição técnica do que é o Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), convidamos você a imaginar o seguinte cenário: seu filho é uma criança de 4 anos e, desde que começou a conviver com mais pessoas e a frequentar espaços sociais, como a escola, passou a demonstrar comportamentos que indicam um incômodo intenso em relação a barulhos muito altos e ambientes com muita luminosidade. Ele também reclama das roupas e calçados que você escolhe, dizendo que “pinicam” ou que são “apertados demais”. 

Essas reações vêm geralmente acompanhadas de muito choro e irritação. Você pensa que é birra e não sabe o que fazer. Conseguiu imaginar? Esse é apenas um exemplo de como o Transtorno de Processamento Sensorial pode se manifestar na prática em crianças dessa faixa etária. Mas atenção: como veremos mais adiante, esses são sinais comuns, mas não necessariamente indicam um diagnóstico positivo para o transtorno. Agora, vamos entender mais!

O que é o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS)?

O Transtorno de Processamento Sensorial é uma condição neurofisiológica em que o cérebro tem dificuldade para interpretar corretamente os estímulos que recebe, seja do ambiente ao redor ou do próprio corpo. Uma criança com TPS pode ter dificuldades para perceber ou reagir adequadamente a estímulos como:

  • Temperatura: pode não perceber se está com calor ou frio.
  • Fome e cansaço: pode ter dificuldade para reconhecer quando está com fome ou cansada.
  • Sons, luzes e texturas: atividades simples, como ouvir um barulho, pisar na areia ou vestir uma roupa, podem ser desafiadoras.

Nosso corpo recebe informações por meio dos sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar). Essas informações são enviadas ao cérebro, que as processa e responde com uma ação, que pode ser um movimento ou uma reação emocional. No caso do TPS, esse processamento não acontece de forma eficiente, o que pode levar a comportamentos que parecem exagerados ou incomuns diante de situações do dia a dia.

Compreender como o TPS afeta a criança é o primeiro passo para ajudá-la a lidar melhor com essas dificuldades, garantindo que ela tenha um desenvolvimento mais saudável e equilibrado.

Quais são os sintomas do Transtorno de Processamento Sensorial?

Além dos pontos já mencionados, alguns dos sintomas mais comuns do TPS são:

  • Sensibilidade a roupas ou texturas: irritação ou desconforto com determinados tecidos, costuras ou etiquetas.
  • Intolerância a ruídos: sons que parecem normais para outras pessoas podem ser insuportáveis.
  • Aversão a determinados alimentos: rejeição baseada na textura, cor ou cheiro, mesmo sem relação com o sabor.
  • Dificuldade com habilidades motoras finas: tarefas como segurar um lápis, cortar com tesoura ou abotoar roupas, por exemplo.
  • Resistência a mudanças: dificuldade para transitar entre atividades, ambientes ou rotinas diferentes.
  • Reações emocionais intensas: ansiedade, irritabilidade ou até mesmo agressividade diante de estímulos que causam desconforto.

O Transtorno de Processamento Sensorial tem relação com o autismo? 

O Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) é bastante comum entre pessoas dentro do espectro autista. Ambos compartilham características relacionadas à forma como o cérebro interpreta e responde aos estímulos. No caso do autismo, essas dificuldades sensoriais fazem parte dos critérios diagnósticos, enquanto o TPS pode ocorrer de forma isolada em crianças neurotípicas ou com outras condições.

Apesar dessa relação, TPS e autismo são condições diferentes. Enquanto o TPS afeta especificamente a maneira como os sentidos são processados, o autismo envolve uma série de outras características que também impactam a comunicação, a interação social e o comportamento. Portanto, nem todas as pessoas com TPS têm autismo, mas entender essa ligação é importante para oferecer estratégias adequadas de apoio sensorial, seja no ambiente escolar, em casa ou em outros contextos sociais.

Aproveite e confira os posts que já fizemos aqui no Marista Lab sobre o Transtorno do Espectro Autista. 

A diferença entre hipossensibilidade e hipersensibilidade

Esses são dois termos que costumam aparecer quando estudamos sobre o Transtorno de Processamento Sensorial. Apesar da nomenclatura semelhante, eles têm significados diferentes.

A hipossensibilidade ocorre quando a criança precisa de estímulos muito intensos para perceber o ambiente. Ela costuma ser bastante agitada, movimenta-se constantemente, morde objetos, tem uma resposta reduzida à dor, gosta de barulhos altos e cheira tudo ao seu redor.

Já a hipersensibilidade é o contrário. A criança percebe os estímulos de forma exagerada, o que faz com que luzes pareçam muito fortes, barulhos sejam intensos demais e cheiros e toques se tornem desconfortáveis. Ela pode evitar ser tocada, não gostar de se sujar, ser mais sensível à dor e ter dificuldades para aceitar certos alimentos.

Como funciona o diagnóstico e o tratamento do TPS? 

Geralmente, o diagnóstico do Transtorno do Processamento Sensorial é realizado por um terapeuta ocupacional especializado em integração sensorial. O processo envolve testes e uma avaliação detalhada do histórico e do comportamento da criança. 

O tratamento ocorre por meio da terapia ocupacional com foco em integração sensorial, incluindo a realização de atividades comuns como pular em trampolins, usar bolas terapêuticas e aplicar pressão profunda no corpo. Essas atividades ajudam o cérebro a processar melhor os estímulos do ambiente.

Além disso, os terapeutas podem criar “dietas sensoriais”, que são planos personalizados de atividades para serem feitas em casa. Pequenos ajustes no ambiente, como reduzir ruídos ou diminuir luzes fortes, também podem ajudar a melhorar o conforto e o foco da criança. A terapia ocupacional trabalha a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar e aprender novas formas de reagir aos estímulos. 

7 dicas para amenizar a sensibilidade sensorial

Antes de conhecer estas dicas que podem amenizar os efeitos negativos da sensibilidade sensorial, é importante saber que nada substitui a busca por ajuda especializada. Portanto, se seu filho apresenta os sintomas que abordamos aqui e isso é uma fonte recorrente de preocupação, procure um terapeuta ocupacional para orientações sobre qual o melhor tratamento, pois cada caso é particular. Sabendo disso, confira algumas dicas básicas que podem ajudar a lidar com os desafios encontrados em situações cotidianas. 

1. Chegue e saia cedo
Evite chegar no ápice da movimentação. Chegar cedo ajuda a criança a se adaptar gradualmente ao ambiente. Sair antes do fim evita o estresse da dispersão e facilita a volta para casa.

2. Escolha locais mais tranquilos
Vai a algum evento com a criança? Prefira as laterais ou fundos do local, que costumam ser mais silenciosos e menos movimentados.

3. Ofereça fones de ouvido com cancelamento de ruído
Esses fones ajudam a reduzir o desconforto causado por barulhos altos, proporcionando mais tranquilidade à criança.

4. Atenção redobrada com crianças pequenas
Crianças sensíveis podem tentar fugir ou se esconder. Utilize pulseiras ou cartões de identificação com contato dos responsáveis. Converse com a criança antes do evento sobre o que esperar e peça para ela avisar caso se sinta desconfortável.

5. Proteja contra a luz intensa
Óculos de sol com boas lentes e bonés ajudam a reduzir a sensibilidade à luz, proporcionando mais conforto visual.

6. Acolha e dê suporte emocional
Valide os sentimentos da criança. Procure utilizar frases como: “Entendo que isso é difícil para você” ou “Como posso ajudar você a se sentir melhor?”. Isso demonstra empatia e respeito pelas dificuldades dela.

7. Explique para as outras crianças
Se possível, busque conversar com os amigos próximos da criança, incentivando a compreensão e o apoio. Ensinar o respeito às diferenças desde cedo promove empatia e inclusão.

O apoio da escola é fundamental 

A parceria entre família e escola é indispensável para encontrar e colocar em prática alternativas e estratégias que proporcionem o desenvolvimento adequado das crianças com TPS ou outros transtornos de comportamento e aprendizagem. Por isso, nos Colégios Maristas, o respeito à diversidade e a promoção da inclusão são trabalhados diariamente, dentro e fora de sala de aula. Saiba mais sobre o tema clicando aqui.

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