Vivemos em um mundo hiperconectado, onde compartilhar momentos do dia a dia — inclusive fotos dos filhos — parece natural. Mas, na pressa de postar, será que estamos protegendo a privacidade e a segurança deles?
As redes sociais facilitam a conexão, mas também trazem riscos como vazamento de dados, roubo de identidade e exposição emocional. O objetivo não é culpar os pais, mas conscientizar sobre o tema. A questão não é se as crianças devem aparecer online, mas como sua presença digital é gerenciada. Confira a seguir riscos e dicas para compartilhar com responsabilidade.
Os riscos da superexposição de crianças online
A circulação intensa de imagens infantis pode fazer com que fotos e vídeos sejam armazenados em bancos de dados sem consentimento. Em 2024, um relatório da organização Human Rights Watch (HRW) revelou que imagens de crianças brasileiras foram usadas para alimentar, sem autorização, plataformas de Inteligência Artificial na Alemanha. Por isso, fique atento(a) aos riscos, como:
1. Violação de privacidade e uso indevido de dados
- Fotos postadas podem ser salvas, alteradas ou usadas por terceiros — mesmo em plataformas “confiáveis”.
- Geotags, uniformes escolares ou datas de nascimento expõem detalhes sensíveis a possíveis criminosos.
2. Perda de controle e cyberbullying
- É preciso ter consciência de que a internet tem alcance global e que os conteúdos podem ser compartilhados sem controle.
- Imagens podem ressurgir anos depois, causando constrangimento ou bullying, tornando as crianças alvos de críticas ou comentários maldosos.
- Crianças não têm voz na construção de sua identidade digital inicial, que pode conflitar com sua vida adulta.
3. Impacto na saúde emocional
Muitos pais compartilham fotos dos filhos movidos pelo desejo de registrar momentos especiais, mas também existe a busca por engajamento e reconhecimento. Essa necessidade de exposição pode impactar a saúde emocional da criança no futuro, principalmente se a imagem for utilizada de maneira indevida ou gerar lembranças constrangedoras.
- O sharenting (termo utilizado para se referir às postagens que os pais fazem com fotos ou vídeos de seus filhos) muitas vezes vem do amor, mas também da busca por validação.
- Filhos podem se sentir pressionados a performar para as câmeras ou se revoltar com a exposição no futuro.
Como compartilhar com segurança:
1. Reduza detalhes identificáveis
- Não compartilhe fotos que exponham a criança de forma íntima ou vexatória.
- Evite expor nomes completos, aniversários, logotipos de escolas ou locais frequentados.
- Prefira formas discretas de registro, como imagens de costas, de longe ou sem mostrar o rosto.
- Respeite o direito da criança de construir sua própria identidade digital, sem imposições externas.
2. Ajuste as configurações de privacidade
- Use opções como “Apenas Amigos”, no Instagram, ou álbuns privados, no Facebook, por exemplo.
- Desative a geolocalização e revise as políticas das redes sociais e leia os termos de privacidade das plataformas para entender como os dados são utilizados.
- Utilize senhas seguras e ative a verificação em duas etapas.
3. Ensine (e pratique) consentimento digital
- Para crianças maiores: Pergunte antes de postar. Explique por que algumas fotos não devem ser públicas.
- Dê o exemplo: Pense com cuidado antes de compartilhar a sua própria vida online.
Antes de postar, reflita!
Alguns questionamentos ajudam a nortear os pais ou responsáveis na decisão de publicar ou não um conteúdo. Pergunte-se:
- “Isso pode prejudicar a privacidade ou segurança do meu filho?”
Lembre-se de que tudo o que é compartilhado na internet deixa um rastro digital. Mesmo que a foto seja deletada, ela pode ter sido salva ou repassada por outras pessoas.
- “Meu filho vai gostar dessa foto daqui a 10 anos?”
Evite conteúdos que possam causar constrangimento ou ser usados de maneira inadequada, como trends que “brincam” com a ingenuidade das crianças, birras, fotos em roupas de banho etc.
- “Meu filho concorda com essa publicação?”
O consentimento vai além de simplesmente perguntar. É fundamental considerar a idade e a capacidade da criança de entender as possíveis consequências dessa exposição.
Dica extra
As redes sociais não são necessariamente as vilãs. O segredo é usá-las com consciência. Ao priorizar a privacidade e o consentimento, os pais podem celebrar as conquistas dos filhos sem colocar sua segurança em risco. Assim, deixamos aqui um próximo passo: revise suas postagens hoje. Ajuste configurações, delete fotos arriscadas e comece a aplicar essas dicas.
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