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O que é a cultura do cancelamento e como abordar o assunto com crianças? 

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Frequentemente ouvimos falar sobre a cultura do cancelamento, especialmente quando notícias envolvendo famosos ganham destaque na mídia. Contudo, esse fenômeno não se restringe ao universo das celebridades, estendendo-se para a realidade das crianças e adolescentes. 

O cerne desse conceito reside em aplicar medidas punitivas a uma pessoa que adota comportamentos ou ideias considerados intoleráveis, frequentemente manifestados em plataformas de redes sociais. No entanto, não há uma regra única, sendo diversas justificativas utilizadas para respaldar essa abordagem. 

Nesse sentido, é fundamental que os pais abordem esse tema como parte da preparação de seus filhos. Aprofundemos ainda mais a seguir! 

O que é a cultura do cancelamento? 

A cultura do cancelamento é um processo social no qual uma pessoa, grupo ou marca é colocado no ostracismo como punição por um posicionamento que é considerado inadequado. Sua base é a problematização sem uma discussão sobre o assunto ou o que está por trás dele. 

Geralmente, busca causar impactos financeiros. Para tanto requer a participação de um agente econômico que tenha o poder de afetar os ganhos dos cancelados. No entanto, conforme essa conduta se torna mais comum e chega às pessoas que não são públicas, a marginalização acaba sendo sua principal consequência. 

A ideia, explica a especialista em mídias sociais e negócios na internet, Fernanda Musardo, vem geralmente com o exposed, para comprovar que a pessoa está “fora do padrão”, que está adotando um comportamento intolerável e que “merece ser julgado e cancelado”. 

Com isso, passa a sofrer humilhações públicas nas redes sociais, perdendo seguidores e sendo exposta negativamente. Ou seja, em última instância, trata-se de um tipo de cyberbullying no qual a vítima é perseguida e tem sua reputação questionada. 

Existem diversos motivos para “cancelar” alguém, desde a falta de familiaridade com tecnologias e gírias atuais, até preferências pessoais ou o não seguimento de comportamentos considerados corretos. Essa prática é usada para intimidação ou para moldar o indivíduo de acordo com as normas socialmente aceitas

Embora esse conceito não seja novo, ao longo da história o julgamento social foi utilizado para impor determinados modelos, a sociedade atual se depara com uma nova perspectiva que entra em conflito com valores tradicionais. 

Esse cenário piora com os canceladores se considerando superiores ou justiceiros, pois não acreditam que fariam o mesmo ou se veem como parte de um espectro dominante. Para agravar ainda mais a situação, a digitalização coloca tudo em uma escala maior. 

Um exemplo recente é a onda de cancelamentos observada em redes sociais, que figuras públicas foram rapidamente condenadas por declarações feitas anos atrás, muitas vezes fora de contexto. Esses casos ilustram como a digitalização permite que informações antigas ressurjam e sejam usadas para condenar indivíduos no presente. 

Como é a cultura do cancelamento entre as crianças? 

A cultura do cancelamento não está limitada às celebridades ou aos adultos, visto que crianças e adolescentes também convivem com ela. No entanto, o processo é diferente, já que não busca causar danos financeiros ou a reputação profissional. Seu impacto é social, marginalizando a vítima do grupo. 

Quer sejam vítimas de cancelamento ou agentes da prática, crianças e jovens são afetados negativamente por essa dinâmica, particularmente porque é nessa fase crucial da vida que estão moldando padrões de personalidade, ética, justiça e comportamento. 

Essas noções são fortemente influenciadas pelos modelos de conduta observados nos diversos ambientes sociais que frequentam, como família, escola e internet. 

Assim, ao estarem sujeitos ao cancelamento tão cedo, as crianças e os jovens tendem a adaptar seus hábitos, desejos e opiniões. Desse modo, dão mais importância à validação do que a quem realmente são ou ao que consideram correto. Ainda mais que não há a possibilidade de externar o incômodo ou dar a oportunidade de ouvir desculpas e explicações. 

Isso cria uma sensação de disfuncionalidade, insegurança e ansiedade para que não errem de alguma forma. Portanto, todo seu senso de valor e autoestima fica refém do julgamento do próximo. Como efeito, comportamentos pouco saudáveis acabam sendo adotados, como: 

  • autocensura constante por medo de cometer algum erro socialmente inaceitável; 
  • obsessão em criar uma imagem perfeita nas redes sociais para evitar críticas; 
  • desenvolver manias relacionadas à vigilância constante. 

Quais os riscos da cultura do cancelamento? 

A saúde mental é diretamente afetada pela cultura do cancelamento. Um evento como esse pode mudar uma pessoa, fazendo-a: 

  • se colocar em situações desfavoráveis para não contrariar ninguém, por medo de ser rejeitada novamente; 
  • desenvolver ansiedade quanto às suas ações e posturas, por temer não se encaixar ou errar; 
  • apresentar quadro de depressão e desconexão afetiva oriundos de um sentimento de abandono; 
  • ter dificuldade de socializar, se integrar ou construir vínculos, à medida que não se considera adequado. 

Entre os jovens, essa ideia se torna ainda mais perigosa, uma vez que, por estarem em um estágio menos maduro de desenvolvimento, enfrentam maiores desafios em lidar com conflitos. Durante a adolescência, experimentam uma necessidade intensificada de aceitação entre colegas, buscando acolhimento virtual e um senso profundo de pertencimento. 

“Ser exposto na internet e ainda ser cancelado por isso causa um dano muito sério no comportamento do adolescente”, alerta Fernanda. 

Fernanda destaca o grave impacto que ser exposto e cancelado online pode ter sobre adolescentes, com consequências que vão desde o desenvolvimento de comportamentos impulsivos até o medo de expressar suas próprias opiniões. 

Essa situação impede que jovens engajem em diálogos honestos sobre discordâncias, uma competência crucial para a vida adulta. A capacidade de participar ativamente na sociedade, advogar por si mesmo e reivindicar direitos humanos é comprometida, limitando sua habilidade de se posicionar frente a temas relevantes

Diante desta realidade, a vítima encontra-se extremamente vulnerável, e é essencial que a sociedade intervenha para garantir sua segurança. 

Quando a sociedade precisa se envolver com essa questão? 

Quando se trata dos limites de intervenção nos casos em que a cultura do cancelamento se excede, tornando-se um crime ou acarretando danos, cabe à sociedade: 

  • garantir políticas que amparem as vítimas; 
  • promover ações de proteção aos vulneráveis; 
  • punir agressores nos termos da legislação. 

No entanto, é fundamental que a ação seja proativa e ocorra antes que a situação escale para o ato de cancelamento. Isso envolve iniciar discussões sobre a legitimidade do cancelamento e identificar as circunstâncias apropriadas para intervir. 

Ao promover esses debates, podemos desenvolver uma compreensão conjunta e trabalhar em direção a uma sociedade mais inclusiva e acolhedora. 

Mais que isso, o diálogo precisa ser visto como o instrumento que substitui o cancelamento para a resolução construtiva dos conflitos. Assim, é essencial refazer a construção social acerca de como deve ser o ajuste das relações e das condutas, propondo soluções com essa ação no centro. 

Como ajudar o seu filho a lidar com a cultura do cancelamento? 

O diálogo também é fundamental para que seu filho não adote a cultura do cancelamento no meio virtual ou no dia a dia como forma de resolver conflitos. Veja como abordar isso! 

Converse sobre sentimentos e situações difíceis 

É importante que o seu filho criança e adolescente confie e possa conversar com você sobre o que o incomoda livremente. Por isso, procure compreender o que ele está sentindo, seja preocupação, tristeza ou raiva. Assim, busque demonstrar que você está aberto a ouvir sem julgamentos. 

Valide as emoções dele sem apoiar o cancelamento 

Se você suspeitar que seu filho está participando de ações de cancelamento, esteja aberto para ouvir e compreender as razões por trás de seu comportamento. É crucial distinguir entre validar os sentimentos do adolescente e concordar com suas ações. 

Em outras palavras, você pode demonstrar compreensão em relação à frustração ou confusão que ele possa estar enfrentando, sem endossar ou ser conivente com o ato de cancelamento em si. 

Essa abordagem permite que você mantenha um diálogo aberto e construtivo sobre os desafios emocionais que seu filho possa estar enfrentando, incentivando-o a desenvolver formas mais saudáveis de lidar com suas emoções e conflito. 

Oriente sobre qual é a postura correta 

Não é construtivo que os pais julguem os comportamentos do filho ou incentivem práticas cancelamentos quando surge alguma desavença. O mais indicado é concentrar-se em ensinar aos filhos a entenderem o ponto de vista da outra pessoa e que resolver as diferenças não significa bloquear alguém de sua vida ou deixar de segui-lo nas redes sociais. 

Papel da escola na cultura do cancelamento 

A escola desempenha um papel crucial na educação e formação das crianças, atuando paralelamente à influência familiar. Quando se trata de abordar a cultura do cancelamento, a instituição educacional deve: 

  • promover o diálogo aberto: A escola deve incentivar conversas abertas sobre as consequências da cultura do cancelamento, ajudando os alunos a entenderem a importância do respeito pelas diferentes opiniões e da empatia nas interações sociais; 
  • desenvolver pensamento crítico: Educadores podem criar atividades que estimulem os estudantes a avaliar criticamente as informações e as fontes, contribuindo para um julgamento mais fundamentado sobre diferentes questões e comportamentos; 
  • ensinar responsabilidade digital: Enfatizar a consciência sobre a pegada digital que cada um deixa e como ela pode afetar não apenas a si mesmo, mas também aos outros, destacando a responsabilidade associada ao uso de plataformas online; 
  • fortalecer valores éticos: Reforçar os princípios éticos de convivência, como a tolerância e a solidariedade, que são essenciais para contrapor práticas de exclusão e marginalização típicas do cancelamento; 
  • apoiar o desenvolvimento emocional: Disponibilizar apoio emocional e psicológico para os alunos que possam ter sido afetados por experiências de cancelamento, oferecendo um espaço seguro para expressão e acolhimento; 
  • cooperar com as famílias: Estabelecer uma parceria sólida com as famílias, para que tanto em casa quanto na escola seja promovida uma mensagem consistente sobre interações saudáveis e respeitosas. 

Ao implementar essas estratégias, a escola não apenas educa os alunos sobre os perigos associados à cultura do cancelamento, mas também equipa-os com as ferramentas para navegar e influenciar positivamente o ambiente digital e social

A cultura do cancelamento está cada dia mais presente na vida dos jovens. Porém, isso não deve ser normalizado, já que seus efeitos são preocupantes nessa idade e podem acarretar problemas para toda a vida. 

Portanto, os pais precisam agir, fomentando o diálogo como pilar para a construção do entendimento e enfatizando que resolver diferenças não implica bloquear alguém de sua vida ou deixar de segui-lo nas redes sociais. 

Entre seus impactos nessa fase, o emocional fica em destaque. Descubra como falar disso, lendo o artigo “Educação socioemocional: o que é e por que ela é importante para o desenvolvimento integral do aluno?” em nosso blog! 

Resumindo 

O que falar sobre a cultura do cancelamento? 

A cultura do cancelamento implica no julgamento e na marginalização de alguém devido a posicionamentos ou atitudes, sem a abertura de diálogo. Por isso, discutir até que ponto essa é a melhor abordagem e seus efeitos é fundamental. 

Qual o problema da cultura do cancelamento? 

Os efeitos negativos da cultura do cancelamento são financeiros e psicológicos, afetando a capacidade de uma pessoa de se posicionar. Isso piora quando há um linchamento, geralmente virtual, do indivíduo. Pois, impacta sua reputação sem haver uma análise justa do que levou a isso. 

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