Conseguir se colocar no lugar do outro, compreender os seus sentimentos e se solidarizar. Essas são algumas das definições de empatia, uma capacidade que não vem do útero, mas é aprendida ao longo do crescimento.
Por isso se deve ensinar empatia. Ou seja, é um talento que as crianças precisam desenvolver, da mesma forma com que aprendem uma segunda língua.
Por ser um exercício que melhora o desenvolvimento de qualquer pessoa, cultivar a empatia deveria estar no topo da lista de prioridades no processo educativo das crianças.
Geralmente, os pais se preocupam em ensiná-las a caminhar, ler ou andar de bicicleta, mas é preciso lembrar que desenvolver as habilidades socioemocionais é tão importante quanto.
A empatia ajuda a desenvolver a identidade moral, estabelecer relacionamentos saudáveis, ter a capacidade de superar adversidades e compreender pontos de vistas diferentes do seu.
Crianças que aprendem a ter empatia tendem a ser mais gentis e a pensar mais no coletivo, conquistando sucesso no processo de socialização. Com isso, tornam-se agentes de mudança no futuro. O que muitas famílias se perguntam é: como potencializar o desenvolvimento da empatia? Descubra mais com este artigo.
O que é empatia?
A empatia é a capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos, pensamentos e perspectivas emocionais de outra pessoa. É a conhecida habilidade de se colocar no lugar do outro, sentir consideração e solidariedade pelo que a pessoa está passando.
Com a empatia, é possível desenvolver uma compreensão mais profunda de suas próprias emoções e experiências, além de ser capaz de se conectar de forma mais verdadeira com o outro.
Ela não apenas envolve a capacidade de reconhecer as emoções alheias, mas também a disposição de demonstrar apoio, compaixão e compreensão. É um componente fundamental nas relações interpessoais, pois contribui para a construção de conexões mais significativas e para a resolução de conflitos, favorecendo a compreensão mútua.
Por fim, se apropriando de uma perspectiva mais cientificista, Daniel Goleman, psicólogo norte-americano muito conhecido por seu trabalho relativo à inteligência emocional, traz uma teoria na qual a empatia conta com três classificações distintas:
- empatia cognitiva: relacionada à capacidade de entender e identificar as emoções e perspectivas de terceiros;
- empatia emocional: quando o indivíduo consegue sentir a emoção partilhada pelo outro;
- preocupação empática: quando a pessoa consegue sentir o que o próximo precisa que ele sinta, ou seja, quando há a intenção de solucionar a necessidade momentânea daquela pessoa.
Qual a importância de ensinar empatia para crianças?
O ensino da empatia para crianças é extremamente importante. Ao trabalhar essa noção, educadores, familiares e cuidadores podem auxiliar crianças a:
- desenvolver habilidades socioemocionais: a empatia é uma habilidade socioemocional que permite que as crianças compreendam as perspectivas dos outros e estejam abertas às diferenças, o que facilita a construção de relacionamentos saudáveis ao longo da vida;
- reduzir comportamentos agressivos: crianças que desenvolvem empatia são menos propensas a se envolver em comportamentos agressivos, bullying e conflitos;
- melhorar a comunicação: a empatia pode ajudar as crianças a melhorar suas habilidades de comunicação, pois as capacita a ouvir atentamente e responder de maneira apropriada às emoções dos outros;
- fortalece a autoestima: quando as crianças são encorajadas a demonstrar empatia e ajudar os outros, isso pode aumentar sua autoconfiança e bem-estar;
- ajuda a promover mais tolerância: a empatia pode equipar crianças a aceitar e valorizar as diferenças nos outros, promovendo a inclusão e a diversidade;
- estimula o crescimento de cidadãos engajados: indivíduos que trabalham valores como a empatia desde cedo tendem a se preocupar com questões sociais e a se envolver em ações que visam melhorar a comunidade e a sociedade em geral no futuro.
Nesse sentido, é fundamental pontuar também que a falta de empatia pode ter consequências significativas na rotina dos mais jovens, como dificuldade na convivência social, ausência de solidariedade e autoisolamento.
Como ensinar empatia às crianças?
Ensinar empatia às crianças é uma tarefa fundamental para ajudá-las a desenvolver habilidades sociais e emocionais saudáveis. Veja algumas estratégias que podem guiá-las nesse processo.
Estimule a socialização
O psicólogo Everton Adriano de Morais explica que as crianças estão em uma fase de desenvolvimento em que a aprendizagem acontece a partir da interação. Por exemplo, ter tempo livre para brincadeiras não estruturadas — aquelas que advêm do uso de objetos que não têm a função de brinquedos originalmente — é uma forma de ensinar empatia.
Ao mesmo tempo, os pais devem evitar oferecer recompensas cada vez que o filho se esforça por algo, isso só aumenta o egocentrismo e faz decair o sentimento de empatia.
Ou seja, brincar, conversar e estar em grupo contribuem para o desenvolvimento da empatia. Isso acontece porque estruturas cerebrais responsáveis pela atenção e emoção agem em conjunto com os neurônios espelhos, por meio dos quais os comportamentos presenciados tendem a ser repetidos.
Nesse sentido, atividades e brincadeiras envolvendo amigos e familiares pode ter um papel primordial no desenvolvimento da empatia ao propor dinâmicas de trabalho em equipe nas quais as crianças são estimuladas a ouvir orientações, ajudar e serem ajudadas no enfrentamento de desafios conjuntamente.
Pratique leitura ativa para trabalhar o conceito de empatia
Além de se conectar com os outros, ler livros de ficção pode ser uma boa forma de ensinar empatia.
Adriano de Morais explica que, ao se deparar com determinado personagem, é possível perceber diferentes emoções e até se identificar com alguma situação. “Ele pode ficar com saudades, estar apaixonado, triste, com medo. Essa leitura ajuda na construção da empatia”.
Existem outros meios que contribuem para o desenvolvimento dessa habilidade, como a dança e a música. “Dançar em dupla cria empatia com o outro. Isso porque os neurônios espelho têm relação com o comportamento motor e com as emoções”, afirma.
Já pelo viés da música, seja ouvindo, tocando ou cantando, é possível expressar sentimentos e aprimorar a capacidade de ser empático.
Seja um exemplo
As figuras adultas são muito importantes no processo de aprendizado de valores, e as crianças aprendem pelo exemplo. Sirva como modelo e demonstre comportamentos empáticos em sua própria vida diária, mostrando compreensão e apoio aos outros.
Faça da empatia uma prática no seu dia a dia, com amigos e família, e também vizinhos e pessoas ao redor. Seja cordial e mostre interesse no que as pessoas têm a compartilhar, sobretudo as próprias crianças. No mais, é importante não emitir comentários maldosos sobre outras pessoas ou realizar julgamentos precipitados.
Ensine as outras emoções à criança
Para se conectar com as emoções dos outros e acolhê-las, as crianças precisam primeiro conhecer o repertório de sentimentos que existem e compreender os seus.
Logo, desde cedo, ajude as crianças a verbalizar o que estão sentindo, a reconhecer sentimentos como tristeza, ansiedade, medo, alegria, frustração, euforia, entre outros, e aprender a lidar com eles de forma saudável.
O sentimento de falar ou lidar com o “não”, por exemplo, é muito importante ser abordado. Cabe ensiná-lo como uma possibilidade de espera, de respeito ao que não pode ou não é válido naquele momento. O não, ensina a esperar, a ter paciência e perseverança.
Associe o sentimento a personagens e desenhos que a criança goste
Nada como a ludicidade para ensinar empatia, um conceito por vezes complexo e intangível. Já falamos sobre livros, mas pode valer a pena usar um desenho, filme ou personagens específicos que a criança goste e usá-los como modelo para demonstrar diversas situações ligadas à empatia.
Em um determinado episódio em que a personagem esteja triste, experimente perguntar à criança questões como:
- Como você acha que ela está se sentindo?
- Como você se sente quando está em uma situação parecida?
- O que podemos fazer para ajudar?
Dessa forma, você promove uma reflexão e a ajuda a pensar de forma empática.
Incentive a empatia com os colegas
Encoraje as crianças a se colocarem no lugar do outro, começando pelos colegas, para ajudá-las a enxergar as necessidades dos outros e evitar situações de conflito e agressividade.
Assim como no caso do personagem na ficção, estimule a reflexão: como eu me sentiria se isso acontecesse comigo? Auxilie as crianças a se conectar com os sentimentos dos outros e ter solidariedade.
Na medida em que as crianças aprendem a compreender e valorizar as emoções e perspectivas dos outros, elas constroem relacionamentos mais saudáveis, tornam-se cidadãos mais solidários, melhor preparados para lidar com desafios emocionais e sociais que aparecerão ao longo de suas vidas.
Logo, ensinar empatia para crianças é fundamental para contribuir para um mundo mais acolhedor e harmonioso.
Gostou do conteúdo? Se sim, convidamos você a ler agora um artigo sobre solidariedade e e importância desse valor na infância.
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