Agir de forma cidadã é importante em qualquer área a vida. No ambiente digital não é diferente. Para tornar a cidadania digital uma atitude do cotidiano, é essencial que os pais e a escola tragam para a rotina de crianças ou adolescentes esse aprendizado, orientando desde cedo sobre como exercer a cidadania de modo digital.
O primeiro passo é definir exatamente o que isso significa. Fernanda Musardo, especialista em mídias sociais e negócios na internet, explica que: “de maneira geral, assim como adotamos práticas, condutas e comportamentos no mundo fora da internet, a cidadania digital é justamente estabelecer condutas adequadas de cada cidadão.”
Esse trecho já indica se tratar de uma postura. Assim, possibilitar seu desenvolvimento passa por abordar esse assunto de modo consciente. Veja como a seguir!
O que é cidadania digital e a quais pontos está relacionada?
Da mesma forma que os espaços físicos, os virtuais demandam respeito às regras para o pleno exercício de direitos e deveres.
O conceito de “cidadania” está fortemente vinculado, no Brasil, à Constituição de 1988. A cidadania é entendida como a fruição e o exercício dos direitos fundamentais e também implica em deveres e responsabilidades dos cidadãos perante a sociedade e o Estado, o que não restringe ao ambiente físico.
Portanto, entende-se cidadania digital a partir de um comportamento ético a ser adotado no mundo digital.
Este conceito é de extrema importância, pois apresenta um conjunto de elementos que compõem a postura online desejada. Desse modo, serve de base para as práticas e relações nesse meio, como agir de maneira responsável, ética, inclusiva, consciente e segura.
Com o processo de digitalização da vida, no início do novo século, e de dataficação — ocorrido na última década — a forma de ver e atuar no mundo alterou drasticamente.
Sendo assim, boa parte da vida passou a ser mediada pela tecnologia de forma que entender as normas implícitas e explícitas que regem as interações sociais no ambiente virtual se tornou essencial, uma vez que — à luz do conhecimento do geógrafo e escritor Milton Santos — vida e relações sociais são sinônimos.
Nesse contexto, práticas de comunicação digital são compartilhadas entre os usuários em temas como:
- informação e credibilidade, para consumir ou divulgar apenas o que tem fundamento, identificando o que é tendencioso ou incorreto;
- segurança digital para proteger dados e transações ou para evitar tanto golpes quanto fraudes;
- direitos autorais para que a utilização propriedade intelectual ocorra corretamente, assegurando aos autores as garantias legais;
- alfabetização digital para se relacionar com conteúdo ou pessoas por essa via da melhor maneira, a partir da compreensão de fontes e significados;
- privacidade para limitar o que é público do que é privado, dando ao indivíduo poder sobre o que se refere a ele;
- inclusão voltada a reduzir a falta de acesso a ferramentas e soluções que permitam exercer a cidadania digital.
Esses aspectos encontram amparo legal já na constituição. Mas foi o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/14) que estabeleceu princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Isso porque definiu diretrizes para o funcionamento desse ambiente no país, estabelecendo o papel do Estado na regulação e garantias de resguardo dos direitos civis das pessoas.
Antes desse divisor de águas, a Lei nº 12.737/12 respondeu a uma lacuna entre real e virtual, integrando ao Código Penal as variações de crimes que acontecem nesse meio. Para completar esse quadro, em 2018, a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709) regulamentou o uso das informações coletadas dos usuários das redes.
Fora do Brasil, em termos de normas legais recentes, a Lei de Serviços Digitais pode servir como grande referência. O conjunto de medidas entrou em vigor na União Europeia, em agosto de 2023, e conferiu mais controle aos usuários sobre seus dados, assim como instaurou regras para lidar com discursos de ódio e outros conteúdos ilegais.
O que diz a BNCC sobre a cidadania digital?
Todos se tornam cidadãos pelo convívio. Portanto, as duas primeiras relações nesse processo, família e escola, são fundamentais para isso. O ambiente escolar conta com o direcionamento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para apoiar os estudantes nessa construção.
Esse documento, cuja função é normativa, se organiza em competências. A partir dessa divisão, podemos encontrar aspectos nos quais a cidadania digital se relaciona com a educação. O principal deles é o tópico da cultura digital.
De forma prática, trata do papel das tecnologias como meio e do seu impacto na vida cotidiana. Para tanto, busca transpor habilidades e conhecimentos das situações reais para as virtuais, indo do letramento digital ao seu envolvimento com o progresso da sociedade. Entre os pontos que a BNCC propõe estão:
- semelhanças e diferenças entre os ambientes;
- contexto histórico, social e cultural da realidade atual;
- reflexo das vivências pessoais nas percepções;
- influência das limitações socioeconômicas na utilização das tecnologias;
- diversidade de experiências com essas ferramentas;
- ética e coletividade nas ações individuais online;
- responsabilidade e independência de cada idade para usar essas soluções;
- riscos atrelados à TI e quais posturas são adequadas para evitá-los;
- qualidade da informação, seus usos e decisões decorrentes delas;
- relacionamentos, interações e comunicação nesse espaço.
Como as famílias podem auxiliar no desenvolvimento de crianças e jovens como cidadãos digitais?
A comunicação é central para abordar a cidadania digital com os filhos. Para tanto, os responsáveis podem começar explicando que, mesmo em um espaço onde não necessariamente você vê a outra pessoa — como a internet —, o respeito e a empatia precisam ser a base de qualquer ação.
É necessário ainda salientar que o ambiente digital é composto de softwares, mas que existem seres humanos do outro lado da tela, orientando que podem ser pessoas com boas intenções ou más, assim como no mundo real. Ou seja, as crianças necessitam compreender que, até em uma situação aparentemente segura, é preciso estar atento.
Nesse sentido, é importante que elas consigam perceber que ter o acompanhamento de um adulto de sua confiança é essencial para evitar quaisquer perigos.
Controlar o tempo de uso das telas é importante para isso?
Estabelecer um diálogo com crianças e adolescentes sobre quando permanecer conectados e quando desligar seus dispositivos é outro componente importante da cidadania digital.
É necessário que eles compreendam que os aparelhos, assim como outros instrumentos da vida cotidiana, devem ser utilizados com responsabilidade e que há momentos em que seu uso é útil e necessário, como para estudar e realizar pesquisas.
Em contrapartida, há ocasiões nas quais eles podem ser substituídos por outras formas de interação com o ambiente, por exemplo, quando são utilizados para fins de lazer. Nesses casos, é possível utilizar opções fora do ambiente virtual como livros, jogos ou, até mesmo, como esportes.
Em outras palavras, é necessário trabalhar a construção de uma relação equilibrada com os dispositivos eletrônicos desde a infância, de forma que as crianças não os transformem no centro de suas rotinas e o compreendam como um recurso ocasional, como brinquedos e outros tantos.
Nesse sentido, como responsável, certifique-se de estar sendo modelo de uma boa saúde digital também.
De que forma agir para garantir a segurança dos filhos?
A presença e a participação das famílias são fundamentais para criar um ambiente seguro na internet para os filhos. Sob essa perspectiva, Fernanda Musardo destaca a necessidade dos responsáveis buscarem entender os ambientes digitais nos quais as crianças e jovens circulam, assim como o comportamento deles em tais contextos.
Além disso, é fundamental que a família busque manter uma comunicação aberta e clara sobre esse assunto. Pois somente dessa maneira será possível identificar situações potencialmente arriscadas.
Como a comunicação ajuda no desenvolvimento do exercício da cidadania digital?
Incentivar o exercício da cidadania digital plena e segura passa por algumas atitudes familiares. Veja 5 formas de promover isso a seguir!
1. Converse com a criança ou adolescente sobre o assunto frequentemente
Conversar sobre a importância de se manter seguro e com privacidade na internet é uma tarefa cada vez mais necessária no mundo, à medida que os meios digitais estão ampliando o espaço que ocupam na vida cotidiana.
Pode ser trabalhoso desenvolver esse hábito, mas há recursos que podem tornar a comunicação mais eficiente, como jogos e livros, e eles devem ser utilizados.
2. Mostre casos reais
Conte sobre situações que acontecem no mundo, principalmente aqueles com crianças e adolescentes. Isso torna a compreensão mais “palpável”, facilitando que identifiquem quadros semelhantes no dia a dia.
3. Ensine a identificar fraudes
Crianças e adolescentes precisam desenvolver uma visão crítica quanto ao teor dos conteúdos encontrados nos ambientes virtuais. Para tanto, possibilite que eles exercitem esse olhar crítico por meio de análises conjuntas de exemplos, como links maliciosos, para não caírem em uma roubada.
Como familiar, aprenda sobre fraude na Internet, phishing e outros golpes.
4. Explique as configurações de privacidade com clareza
Você pode mostrar às crianças e aos adolescentes o funcionamento das configurações. de privacidade e apenas compartilhar suas informações com pessoas que eles conhecem pessoalmente. Revise regularmente esses dados e explique por que é preciso alterar definições específicas de segurança digital para isso.
5. Instrua a não expor dados pessoais
O vazamento de dados pessoais é um problema que não se restringe a jovens e adolescentes, mas a todos os usuários da internet. Documentos, números de identificação e até mesmo de celular, nas mãos de pessoas mal-intencionadas, podem servir para falsidade ideológica, obter localização fora da web, entre outros transtornos.
Sendo assim, é crucial alertar os mais novos sobre o nível de confidencialidade de tais informações, assim como recomendá-los um olhar crítico para endereços eletrônicos ou outros usuários que peçam por tais dados.
Mais que o significado de cidadania digital, hoje, escola e família são fundamentais para propagar seu funcionamento. Nesse sentido, reflexão e prática precisam ser conciliadas em uma comunicação clara, de forma a preparar as crianças e os jovens para esse aspecto da vida.
Quer outras dicas de comunicação com seus filhos? Então confira este artigo sobre como abordar diversidade e inclusão!
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