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Educação antirracista: como abordar o assunto em sala de aula?

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A educação antirracista tem ganhado visibilidade à medida que a movimentação social vem despontando e questões sociais urgentes têm conquistado espaço de discussão. Seu papel é mais do que evitar o desenvolvimento de situações em que o racismo existe, apesar de tardia, essa relevância também serve à reparação histórica a que se propõe. 

Ou seja, trata-se de uma proposta importante tanto no contexto atual quanto para a desarticulação do racismo estrutural. Assim, vieses que se perpetuam podem ser superados. 

Descubra como abordar esse assunto em sala de aula e mais a seguir! 

O que é uma educação antirracista? 

Educação antirracista é uma abordagem na qual o combate ao racismo no ambiente escolar e em sua comunidade ocorre de forma ativa. Nela, é valorizada a multiplicidade cultural e as contribuições ancestrais de cada povo com enfoque na influência de africanos e afro-brasileiros. 

Ou seja, se trata de reconhecer a identidade multiétnica e multirracial do brasileiro enquanto dá destaque a quem não teve seu papel historicamente reconhecido. Nesse cenário, a escola deve tratar o tema como informação e formação cidadã, acima de tudo, possibilitando a desconstrução de vieses preconceituosos

Isso permite o desenvolvimento de indivíduos que respeitam a diversidade racial como pressupõe os princípios de alteridade e ética que moldam o Ethos Marista. Nesse sentido, é possível construir uma sociedade mais justa. Como efeito, o exercício da cidadania plena chega a todos, sem limitações baseadas em ideias discriminatórias. 

Qual é a base legal para o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira? 

Desde 2003, com a sanção da Lei nº 10.639, as Diretrizes e Bases da Educação Nacional passaram a contemplar o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira. Essa alteração na LDB indicou uma nova abordagem ao assunto, que passou a destacar a importância de se abordar a educação antirracista desde a primeira infância. 

Nesse sentido, é fundamental que haja: 

  • a valorização dos elementos históricos e sociais dessa contribuição; 
  • a definição dos meios de lidar com situações históricas e vieses preconceituosos presentes; 
  • o reconhecimento dos impactos de sua influência para que esses grupos se percebem representados; 
  • Construção de novas visões em prol de uma sociedade mais justa pautada na Carta Magna. 

Qual é a importância de uma educação antirracista? 

A educação antirracista tem impactos nos estudantes, na comunidade escolar e, com base nisso, na sociedade em geral.  

Assim, trata-se de uma temática de grande importância para o bem-estar coletivo, sendo tanto uma necessidade quanto um direito da população. Entre os benefícios por trás disso estão: 

  • trazer à luz questões que não tem sido discutidas ao longo do tempo, mas que fazem parte do dia a dia, tendo consequências como racismo, preconceito, discriminação e violência racial; 
  • debater soluções e promover sua implementação a partir de atitudes individuais ou coletivas; 
  • identificar o aprofundamento da problemática no ambiente escolar e na comunidade como um todo; 
  • reverter e desmitificar crenças que são usadas como justificativas para postura racistas, eliminando vieses que geram o preconceito enquanto repara percepções históricas danosas sobre populações diversas; 
  • desconstruir uma estrutura de desigualdade e desrespeito frente à multiplicidade cultural do Brasil, valorizando a influência africana para a identidade nacional e abordando a questão de pertencimento dos diferentes povos que formam um país; 
  • garantir o acesso igualitário e qualificado aos elementos que compõem a cidadania plena para todos, como educação, saúde, emprego, justiça etc. 

Quais são os pilares da educação antirracista? 

Como base para uma educação antirracista de fato, há alguns conceitos que precisam ser trabalhados. Esses pilares são caminhos para conduzir e objetivos a atingir, indicando o que precisa ser articulado nessa jornada. Entenda melhor cada um! 

Reconhecimento da diversidade racial 

Enquanto elemento básico para o entendimento de que todos são detentores de direitos iguais, esse pilar parte da ideia de reconhecer a diversidade como pluralidade e não como diferença. 

Ou seja, busca ressignificar alguns conceitos para acolher a multiplicidade que forma a identidade do país.  

A começar por valorizar as africanidades brasileiras. Além disso, se volta para o impacto social dessa mudança. Nesse sentido, envolve um processo de promover: 

  • o diálogo; 
  • o questionamento; 
  • a reformulação; 
  • a revisão; 
  • a ressignificação. 

Fortalecimento da memória histórica brasileira 

A desmistificação de ideias preconceituosas é só o primeiro passo para mudar percepções desfavoráveis. Nesse sentido, o princípio de fortalecer a memória histórica e a ancestralidade — entendida aqui como um lugar de resistência, onde saberes, histórias, tradições e vivências previamente relegados são restaurados — serve para reafirmar a importância e o impacto de grupos étnico-raciais longamente excluídos para o país. 

São ações que formam uma nova visão da sociedade e sobre ela. Dessa maneira, permite que os lugares de fala e os espaços coletivos sejam ocupados por uma maior frente de perspectivas distintas. 

Desenvolvimento de atitudes e valores 

Com foco mais prático, esse princípio busca concretizar a visão construída. Assim, está presente no dia a dia, quer seja nas relações sociais ou no âmbito escolar e acadêmico. Seu desenvolvimento passa por criar condições para a: 

  • efetivação dessas ideias no cotidiano; 
  • abertura a um conjunto mais amplo de saberes; 
  • implantação da criticidade e da responsabilidade frente aos vieses. 

Como desenvolver uma educação antirracista em sala de aula? 

Levar esses três princípios supracitados para a sala de aula é o que pretende a educação antirracista. Mas isso começa muito antes de o professor, a coordenação e os demais envolvidos no ambiente escolar planejarem a prática pedagógica. 

Afinal, o amparo do Projeto Político Pedagógico e do currículo escolar para que todas as áreas do conhecimento fluam nessa mesma direção é essencial. 

Só depois de construir essa base é que as ações com os estudantes podem ser arquitetadas e realizadas. Confira a seguir alguns exemplos do que fazer e de como desenvolver essa abordagem! 

Promova uma oficina literária 

Tanto acessar a produção literária de africanos e afro-descentes quanto produzir sobre o assunto são necessidades para que haja uma educação antirracista.  

Nesse contexto, experiência e subjetividade são confrontados com a materialização da escrita dessa realidade. Para isso é preciso: 

  • pesquisar, encontrar e entender autores de origens diversas; 
  • sensibilizar para o tema por meio de conversas, livros e outros textos; 
  • criar um ambiente acolhedor para socializar o que foi construído e compreendido; 
  • promover conexões entre a língua e a cultura; 
  • propor temáticas, dar informações sobre elas e discuti-las. 

Abrace a musicalização e ludicidade das tradições africanas 

A cultura brasileira é cheia de influências africanas. Entre elas, a música, o folclore e as brincadeiras se destacam. Mas é preciso aprofundar os conhecimentos sobre essas manifestações para realmente valorizar seu legado. 

Nesse cenário, o primeiro passo é demonstrar exemplos, especialmente os menos populares. Isso pode ser feito dando lugar à fala para quem tem esses saberes ancestrais e convidando a prática de maneira lúdica. Além disso, é importante o educador dar contexto ao assunto, tratando de: 

  • contar suas origens; 
  • explicar seus significados; 
  • reverberar suas histórias; 
  • apresentar instrumentos e brinquedos. 

Convide para uma experiência culinária coletiva 

A culinária é uma das principais formas de expressão da cultura de qualquer país. Mais do que isso, é um exemplo de como múltiplas influências se mesclam para criar algo novo. No Brasil não é diferente. Em relação à educação antirracista, a cozinha é um poderoso meio de integração. 

A começar por reconhecer a simbologia dos alimentos, do ato de reunir-se à mesa e da complexidade do afeto representando o país de origem dos pratos, além dos modos de preparo e ingredientes que foram legados pela ancestralidade africana, estando hoje presentes na alimentação cotidiana da maioria dos brasileiros. 

Entretanto, é preciso aprofundar esse quadro para que realmente haja uma reparação histórica. Isso porque trata-se de uma construção que iniciou devido ao papel de mulheres escravizadas nas cozinhas. 

Uma forma de colocar em prática essa revisão é apresentar receitas consolidadas da culinária brasileira que se originaram da cultura africana. Alguns exemplos são a rabada e a canja de galinha. 

Essa ideia fica ainda mais interessante ao realizar um projeto experimental em que as famílias cozinham juntas esses pratos, descobrindo e introduzindo os filhos a novos sabores. Na prática, a escola pode convidar a esse momento e torná-lo amplo, colocando todos juntos. 

A educação antirracista tem um papel fundamental na proteção das crianças e adolescentes perante o racismo e na garantia que todos e todas tenham seu direito integral garantido de existir. 

Ela é um caminho para a redução das desigualdades e, quiçá, obtenção de uma sociedade na qual o exercício da cidadania não conte empecilhos discriminatórios. Além disso, tal abordagem mostra-se como um instrumento de desenvolvimento, à medida que leva ao maior acesso a oportunidades e direitos. 

Quer saber mais sobre o que constrói um espaço escolar acolhedor? Então veja este conteúdo que ensina como identificar se o seu filho pratica bullying em nosso blog!