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Mudanças climáticas: impacto no futuro das crianças e jovens

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A cada ano, sentimos mais e mais os efeitos das mudanças climáticas no nosso dia a dia. Ondas fortes de calor, chuvas intensas e frio intenso com nevascas superior ao esperado são provas do desequilíbrio climático que acontece na atualidade.

Enquanto os efeitos das mudanças climáticas afetam diferentes aspectos da vida, como a redução da qualidade do ar e da água, tendo consequências no bem-estar, a saúde e a segurança da população. Nesse contexto, o Relatório Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil, realizado pelo UNICEF em 2022, apontou que as crianças e os adolescentes vão sofrer esses impactos com mais intensidade. 

O relatório do UNICEF ainda mostrou que, no Brasil, 40 milhões de crianças e adolescentes estão expostos a mais de um risco, choque ou estresse climático/ambiental (representando 60% do total).

Neste artigo, vamos abordar os motivos que explicam o porquê de jovens e crianças serem mais afetados pelas mudanças climáticas e como elas impactam as vidas das gerações mais novas hoje e no futuro.

O que são as mudanças climáticas?

O UNICEF define as mudanças climáticas como “As mudanças climáticas são alterações, a longo prazo, nas características do clima e da temperatura do planeta, atribuídas às atividades humanas que podem alterar a composição da atmosfera.” 

As alterações no clima atribuídas a causas naturais são chamadas “variabilidade climática”, enquanto as mudanças climáticas são antropogênicas, ou seja, exclusivamente causada pelas ações humanas, como: 

  • Aumento das emissões de gases de efeito estufa: o Brasil participa do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), um instrumento que faz parte do Protocolo de Quioto e visa reduzir as emissões de gases do efeito estufa dos países menos desenvolvidos e em desenvolvimento por meio do investimento de países desenvolvidos.
  • Degradação Florestal e Desmatamento de grandes áreas de floresta impedindo a evapotranspiração e podendo ocasionar a extinção de algumas espécies: o Protocolo de Quioto também criou o REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), um incentivo econômico para os países que reduzirem as emissões derivadas de desmatamento e degradação das florestas; aumentarem as reservas florestais de carbono, realizarem a gestão sustentável das florestas e a conservação florestal.
  • Poluição atmosférica e assoreamento dos recursos hídricos
  • Aumento na aridez do solo e áreas de desertificação.

Os impactos das mudanças climáticas incluem situações como: 

  • Transformações a longo prazo nos padrões esperados de temperatura e, consequentemente no clima; 
  • Mudanças nos padrões das chuvas: escassez, granizo, chuva congelada, neve, nevascas; 
  • Derretimento das calotas polares e glaciares, causando o aumento do nível do mar; 
  • Impactos na biodiversidade
  • Eventos climáticos extremos como furacões, ciclones, incêndios florestais e ondas de calor, com tempestades mais intensas e períodos de secas mais duradouros; 
  • Risco alimentar com a queima de alimentos ainda nas lavouras e diminuição de produção; 
  • Problemas de saúde, como o alastramento de doenças infectocontagiosas;
  • Deslizamentos de terras, que afetam a mobilidade e o transporte de alimentos e pessoas para escola, trabalho e hospitais; 
  • Calor mais intenso e o aumento de equipamentos com a sobrecarga da energia e falta de luz em algumas regiões, como aconteceu no Brasil em janeiro/2024; 
  • Alterações emocionais, devido à presença do risco de altas temperaturas.

Quais os impactos das mudanças climáticas para crianças e jovens? 

Relatórios divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) são categóricos em afirmar que as pessoas e os ecossistemas estão menos capazes de lidar com as consequências das mudanças climáticas e são os mais afetados por elas.

Contudo, o estudo também reconhece que os efeitos de mudanças climáticas não são sentidos da mesma forma em todo mundo, pelas populações de diferentes regiões do globo e por todas as faixas etárias.

Regiões mais fragilizadas e pessoas mais vulneráveis, como é o caso de jovens e crianças, tendem a ser afetados de forma mais severa. De acordo com o Relatório Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil, do UNICEF, alguns dos impactos mais relevantes são: 

Saúde 

Após desastres climáticos, como deslizamentos e inundações, os casos mais graves e as mortes ocorrem logo após o acontecimento. Mas ao longo das semanas e meses seguintes, surgem doenças ambientais, como a leptospirose e zika, e também doenças não transmissíveis, como a hipertensão.

Além disso, há um aumento nas taxas de doenças crônicas, cardiovasculares, desnutrição e transtornos psicossociais e comportamentais anos após o desastre.

A poluição do ar também está diretamente relacionada às mudanças climáticas, sendo agravada no Brasil pelas queimadas e pela queima de combustíveis fósseis em áreas urbanas. Pesquisas da Unicef mostram que 24,8 milhões de brasileiros com menos de 18 anos são expostos a níveis de poluentes acima do ideal, o que afeta sua saúde e geram efeitos de longo prazo no seu desenvolvimento. No mais, 8,6 milhões de jovens e crianças brasileiras correm o risco de ficar sem água e 7,3 milhões lidam com o risco de enchentes fluviais.

O estudo ainda mostrou que crianças expostas a altas concentrações de poluentes por longos períodos apresentam atrasos no desenvolvimento cerebral, problemas de comportamento e desenvolvimento intelectual. Além disso, a exposição ao ar poluído prejudica o desenvolvimento completo dos pulmões, aumenta o risco de infecções respiratórias, partos prematuros e mortalidade infantil.

Outra pesquisa publicada no periódico Science Direct apresentou os impactos das mudanças climáticas na saúde mental das crianças e dos adolescentes, em que 59% mostraram preocupação com as mudanças climáticas, relatando sentimentos de tristeza, ansiedade e raiva.

Segurança alimentar 

Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018 apontaram para um crescimento nas taxas de insegurança alimentar no Brasil desde 2013, com mais domicílios enfrentando fome ou risco de fome (de 7,8% dos domicílios para 12,7%). Além disso, a pandemia de Covid-19 agravou substancialmente essa situação, impactando especialmente as famílias com crianças menores de 10 anos.

Nesse contexto, a agricultura familiar tem papel crucial na produção alimentar brasileira, sendo a fonte de mais de dois terços dos alimentos consumidos no país. Esse modelo é ainda mais relevante entre as pessoas vivendo na pobreza, respondendo por 80% de sua alimentação. As pequenas propriedades rurais são, no entanto, muito vulneráveis eventos climáticos extremos, sofrendo com a escassez de recursos para se adaptarem a variações no clima, como as mudanças no padrão de chuvas e aumento das temperaturas.

Metade dessas propriedades de agricultura familiar localizam-se no Nordeste, região que enfrenta períodos de seca crescentes e corre o risco de desertificação até 2050. Dessa fora, o relatório do UNICEF aponta que os sistemas de produção e distribuição de alimentos no Brasil são frágeis, particularmente para comunidades rurais e populações mais pobres. Com isso, existe um risco crescente de intensificação da insegurança alimentar, não apenas pelo aumento de preços, mas também pela dificuldade em garantir a disponibilidade de alimentos.

Educação 

Eventos climáticos extremos, como inundações e tempestades, podem interromper o acesso à educação, danificando ambientes educacionais e prejudicando o processo de aprendizagem — isso também contribui para o aumento nos índices de evasão escolar, de acordo com o relatório do UNICEF.

As escolas muitas vezes se tornam abrigos nas comunidades atingidas por desastres naturais, e isso impacta a retomada das atividades educativas e cria contextos mistos de moradia e educação.

Além disso, o relatório do UNICEF apontou que 721 escolas se encontram em áreas de risco hidrológico e 1.714 em áreas de risco geológico, afetando diretamente a segurança das crianças e adolescentes que frequentam a escola. Dessa forma, desastres naturais podem causar danos significativos a esses estabelecimentos, destruindo prédios, móveis, equipamentos e materiais didáticos.

Refugiados climáticos 

Com o aumento das mudanças climáticas, o relatório do UNICEF aponta que as migrações forçadas no Brasil tendem a se tornar mais frequentes. Esses deslocamentos frequentemente ocorrem em contextos de desastres naturais ou humanos, como no caso do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG), onde, mesmo após seis anos, a população ainda não teve suas perdas integralmente reparadas, destacando as dificuldades em lidar com as consequências duradouras desses eventos.

Nessa situação, as famílias precisam enfrentar desafios relacionados ao deslocamento, como ruptura de laços familiares e sociais, a falta de moradia adequada, o acesso restrito a serviços básicos como água e saneamento, a interrupção da educação e da assistência à saúde, bem como a exposição à violência.

Desigualdades sociais 

O relatório da Unicef mostrou como as mudanças climáticas potencializam as desigualdades sociais existentes. Comunidades economicamente desfavorecidas são especialmente afetadas, impactando a vida de crianças e jovens oriundos destas regiões.

O que essas crianças e jovens pensam sobre o assunto? 

Segundo pesquisa feita pela PUCPR em parceria com o Centro Marista de Defesa da Infância (CMDI), a União Marista do Brasil (UMBRASIL) e a Província Marista México Central (PMMC), 90% das crianças brasileiras e 97% das mexicanas entrevistados já ouviram falar sobre os direitos das crianças e dos adolescentes.

Além disso, 64% dos estudantes brasileiros e 56% dos mexicanos afirmaram que sentem que suas opiniões são consideradas pelos responsáveis por tomarem decisões referente às mudanças climáticas.

Outro destaque é que 75% dos estudantes brasileiros e 78% dos mexicanos concordam que as mudanças climáticas afetam crianças e adolescentes de forma desigual, o que corrobora com os dados do relatório da UNICEF.

Hoje, temos ciência de que os efeitos das mudanças climáticas são inegáveis e urgentes, porém, é importante ter em mente que crianças e jovens representam uma população mais seriamente atingida. 

Por mais que a pesquisa com as crianças brasileiras e mexicanas mostre que os estudantes estão informados sobre a situação, abordar o tema de maneira eficaz nas escolas e debater formas de prevenção das mudanças climáticas, como o compromisso com o Marco das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, é fundamental para trazer mais consciência e engajamento entre os jovens e criança de hoje, e também dos adultos de gerações anteriores. 

Inclusive, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), um acordo internacional que visa a cooperação entre nações para combater as mudanças climáticas, incentiva os países signatários a implementarem políticas para limitar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, procurando estabilizá-las em um patamar que diminuía os impactos climáticos causados por atividades humanas.

Mas, afinal, como esses acordos e incentivos podem contribuir para redução das emissões de gases do efeito estufa e desastres climáticos causados pela ação humanada? Por exemplo:

  • Gestão da coleta e tratamento de resíduos (o lixo doméstico);
  • Alerta e orientação a pessoas de grupo de risco habitacional (moradias irregulares); 
  • Investir no reflorestamento e recuperação de áreas naturais; 
  • Uso de energias renováveis, como energia solar, eólica etc.; 
  • Reduzir o uso de combustíveis fósseis e investir em biocombustíveis.

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