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Prevenção ao suicídio: como identificar sinais de alerta em filhos adolescentes? 

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O dia 10 de setembro é considerado oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A partir dessa data, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) propôs, desde 2013, a campanha denominada Setembro Amarelo, que hoje é a maior campanha antiestigma do mundo.  

Por meio dela, escola e famílias têm a oportunidade de se informar, debater e se conscientizar sobre a prevenção ao suicídio, um tema sensível e necessário. 

Atualmente, dados da Organização Mundial da Saúde alertam para o crescente número de tentativas de suicídio. Estudos mostram que, ao redor do mundo, o suicídio tira mais de 700 mil vidas por ano. No Brasil, esse número chega a quase 14 mil mortes anualmente.  

Uma questão, contudo, que serve de alerta para escolas e famílias é que, nos últimos anos, o número de suicídios envolvendo adolescentes aumentou quase 50%. Segundo boletim do Ministério da Saúde, 84,4% dos casos envolvem jovens entre 15 a 19 anos. Adolescentes entre 10 e 14 anos também não ficaram muito atrás nos dados, registrando aumento de 45% nas taxas de mortalidade. 

Esse é um tema complexo — estudado há mais de um século em investigações de figuras renomadas das ciências humanas como o sociólogo Émile Durkheim — e cuja urgência de abordagem entre famílias e escolas cresce cada vez mais. 

Trata-se de uma questão de promoção de saúde, para que todos possam contribuir, de forma coletiva, com o atravessamento de situações de sofrimento emocional, que, se não escutados e acolhidos, podem vir a se tornar demandas de saúde mental, como é o caso da ideação, tentativa ou efetivação do suicídio. 

Sendo assim, o diálogo e a preocupação diária com essas questões fazem parte do Ethos Marista, isto é, dos valores e comportamentos que caracterizam a instituição e nossos colaboradores. 

Acompanhe este artigo e se aprofunde na temática da prevenção ao suicídio conosco!  

Qual é a importância de falar sobre suicídio nas escolas? 

Nos últimos anos, muito tem se falado sobre a importância da saúde mental e da promoção do bem-estar das pessoas em geral diante das dinâmicas da vida moderna.  

Cada vez mais, pesquisas que contemplam as diversas ciências humanas e da saúde têm se dedicado ao diagnóstico e tratamento de transtornos mentais, promovendo um atendimento mais efetivo e acolhedor para as pessoas. 

Nesse ponto, é importante destacar que tentativas de suicídio, em sua maioria, têm uma conexão direta ou aparente a um transtorno psiquiátrico como depressão, segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).  

Sendo assim, falar sobre a importância da saúde mental e acerca de práticas que a beneficiam pode, sim, ter um efeito positivo em relação à prevenção do suicídio

A adolescência é uma fase de intensas mudanças, considerada como uma situação peculiar de desenvolvimento. Portanto, tais mudanças precisam ser consideradas em suas dimensões biopsicossociais, sempre atravessadas pela história e pelo contexto cultural, buscando sempre uma compreensão integral do sujeito 

O cenário atual é fortemente marcado por aspectos de alta complexidade, como estresse nas grandes cidades, desigualdade social e pressões relacionadas às redes sociais, que muitas vezes se tornam veículo da opressão midiatizada, culminando em fenômenos como bullying e cyberbullying. 

Esses fatores, frequentemente, se associam a questões comuns na adolescência, tais quais sexualidade, namoros, padrões de beleza, vestibular, futuro e a busca por boas notas na escola, gerando combinações que podem desencadear fatores de risco para a saúde mental de adolescentes. 

As escolas, em conjunto com as famílias, devem trabalhar para a criação de ambientes socialmente saudáveis, especialmente baseados em valores que fortaleçam a inclusão, a solidariedade e o acolhimento. Isso tende a ser de grande contribuição para o bem-estar dos adolescentes. 

Adolescentes, em sua grande maioria, estão em uma fase na qual buscam o fortalecimento de sua autoestima. Para isso, buscam intensamente formar alianças e ter a sensação de pertencimento em grupos e aceitação por seus pares. 

Nesse contexto, é importante que a escola e os profissionais de educação estejam atentos a situações de bullying, isolamento, alienação de grupos e amigos, preconceitos, discriminação, rejeição pelos pares e outros casos que possam acontecer no dia a dia da escola. 

Tais ocorrências podem se originar no desespero e na desesperança. É necessário, neste contexto contemporâneo, gerar motivações de e para a vida.   

É justamente por essas serem situações tão corriqueiras no ambiente escolar que o diálogo sobre saúde mental, bem-estar e valorização da vida é imprescindível nas escolas. 

Um ponto importante a se levantar é que a abordagem acerca da prevenção ao suicídio precisa ser feita por meio de uma linguagem que propicie a fala sobre a valorização da vida, por meio de aspectos positivos e de proteção em saúde mental. Esse cuidado pode proporcionar um ambiente acolhedor e promotor de prevenção

Existe, de fato, um caráter delicado associado ao tema, mas é essencial que educadores não se esquivem da urgência de uma conversa caso percebam a necessidade ou se os estudantes manifestarem interesse. 

Pelo contrário, muitas pessoas que passaram por situações de violência autoprovocada, com ou sem ideação suicida, muito provavelmente não conseguiram encontrar alguém com quem conversar. 

Abordar o tema com base em informação e fontes confiáveis, de forma séria e importante, mas com acolhimento e delicadeza, é fundamental para trazer conscientização e promover reflexão entre os estudantes. É essencial tratar o tema sem banalidade, ressaltando que toda vida humana é importante. 

Como as famílias podem ajudar na prevenção ao suicídio 

Conforme estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), proteger o direito à vida e à saúde de crianças e adolescentes é um dos deveres da família. Nesse sentido, o entorno dos jovens tem papel central nas práticas cotidianas de prevenção ao suicídio. 

No caso dos adolescentes, é necessário entender que, entre tantas pressões e acontecimentos comuns dessa etapa, essa faixa etária é marcada também por uma busca por independência e autonomia e por ampliar o círculo de amizades e relações. Logo, existe um afastamento da figura dos pais. 

Mesmo diante desse desafio, é importante que as famílias busquem estabelecer uma relação saudável, pautada na confiança, no diálogo sincero e próximo com os filhos para promover o bem-estar do adolescente em gera e promover a valorização da vida. 

Nesse sentido, projetos educacionais que abordam o tema são fundamentais para manter atentas tanto as famílias quanto as escolas nesse quesito. 

Abaixo, acompanhe algumas dicas a seguir que devem auxiliar os responsáveis por crianças e adolescentes nas práticas de valorização da vida. 

Busque identificar sinais de alerta 

Grande parte dos casos de tentativas de suicídio não acontece de forma repentina. Ou seja, a pessoa dá sinais de dificuldade e sofrimento previamente. 

No entanto, é importante salientar que esses sinais nem sempre são diretos, evidentes e fáceis de identificar.  

Muitas vezes, o adolescente dá uma série de pequenos sinais que, se observados em conjunto, são significativos. Nenhum comportamento de forma isolada indica necessariamente uma ideação suicida. 

Outro ponto importante para prevenção ao suicídio é que os sinais não são homogêneos, uma vez que cada adolescente tem suas particularidades e pode manifestar que está passando por dificuldades de diferentes formas. 

Isso reforça a importância de redobrar a atenção e estar mais próximo na rotina, dos filhos por meio de práticas como: 

  • fazer pelo menos uma refeição juntos, como momento de partilha e convivência; 
  • momentos juntos sem cobranças e julgamentos; 
  • ter abertura e interesse real em conhecer as preferências dos seus filhos em aspectos como roupas, esporte, música, entre outros; 
  • em famílias com mais de um filho, procurar estabelecer o “dia do filho único”, passando momentos com cada um deles, para gerar mais aproximação e intimidade; 
  • proporcionar, regularmente, atividades em conjunto entre pais e filhos; 
  • conhecer os amigos; 
  • acompanhar, sem invadir a privacidade, as postagens nas redes sociais — e o que outras pessoas postam sobre seu filho, buscando conversar sobre problemáticas da internet em vez de optar por intervenções arbitrárias que configurem violações do ECA

Quanto aos sinais de alerta, alguns exemplos de condutas que demandam atenção são: 

  • mudanças súbitas no comportamento
  • sinais de tristeza profunda; 
  • oscilações de humor; 
  • manifestações de pessimismo e desesperança com a vida; 
  • isolamento da família, dos amigos, de eventos, etc.; 
  • crises de choro; 
  • autolesão; 
  • verbalizações diversas que indiquem o desprezo pela vida; 
  • sensação de ser um peso ou de fracasso. 

Ouça os filhos 

Adolescentes tendem a experimentar emoções de forma intensa, especialmente na puberdade, pois estão em uma fase de desenvolvimento cerebral e hormonal que atua sobre esses fatores.  

É em função dessa falta de maturidade cerebral — associada aos fatores sociais e culturais do contexto no qual o indivíduo está inserido — que essa idade é marcada pela impulsividade e dificuldade de distinção entre expectativa e realidade.  

Nesse contexto, busque sempre ouvir o que seus filhos estão dizendo. Escute com atenção suas queixas, sem julgamentos, e acolha, tentando ajudá-los a entender caminhos, soluções, alternativas. 

Busque não minimizar essas falas, desvalorizar, rotular ou tratá-las como “drama”. Também não é ideal, nesse momento, diminuir ou comparar sentimentos e problemas, emitindo críticas como “outras pessoas têm problemas mais graves”. Este tipo de argumento desqualifica os sentimentos dos filhos e tende a gerar afastamento.  

Em resumo, é sempre válido levar a sério o que os jovens estão tentando comunicar, seus anseios e dificuldades, com respeito, acolhimento e escuta ativa sem julgamentos. Ofereça ajuda e acompanhe. 

Procure ajuda profissional 

Caso você observe sinais de que seu filho está em sofrimento, é sempre recomendável a avaliação e o acompanhamento de especialistas.  

Psicoterapeutas são profissionais que fazem um acompanhamento contínuo para tratar de questões que envolvam sofrimento emocional e autoconhecimento. 

Psiquiatras são médicos especializados na detecção e diagnóstico de transtornos mentais. Eles podem receitar remédios, caso seja necessário.  

Nos casos de risco e prevenção ao suicídio, é uma boa ideia buscar uma avaliação multidisciplinar e realizar um trabalho em conjunto com esses profissionais. 

Ajudar os adolescentes a atravessarem essa fase que opõem descobertas e o aumento da autonomia a inseguranças e dilemas psicossociais é uma função essencial da escola e das famílias para garantir o maior bem-estar a essas pessoas. Com acolhimento, cuidado e respeito, é possível ajudá-los a enfrentar desafios e valorizar a vida

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